Folha de S. Paulo


PF cogitou fazer buscas na Câmara, mas foi barrada por procurador

Antonio Augusto - 6.mar.2015/Câmara dos Deputados
Deputado federal Eduardo da Fonte, líder do PP na Câmara
Deputado federal Eduardo da Fonte, líder do PP na Câmara

Na maior ação policial contra políticos já autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a Polícia Federal chegou a solicitar buscas dentro da Câmara. O alvo era o gabinete do líder do PP, Eduardo da Fonte (PE), um dos investigados por participação no esquema de corrupção na Petrobras.

Na operação, realizada na semana passada, foram feitas buscas em residências e escritórios do senador Fernando Collor (PTB-AL), Fonte e outros quatro políticos.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em parecer enviado ao STF, discordou de buscas na Câmara. O Ministério Público argumentou que não encontrou elementos que justificassem a medida, classificada por Janot como "gravosa".

Segundo o documento, não havia indícios de que atos ligados ao esquema teriam sido praticados no local.

Para o procurador, "por ser minimamente gravosa [ação desse tipo] há que ser reservada somente para situações em que aflorem sólidos fundamentos."

POSTO

Em relação ao deputado, os investigadores apuram se há relação com o esquema de corrupção depósitos feitos pelo Posto da Torre, do doleiro Carlos Chater, para a empresa ADPL Motors, que tem Eduardo da Fonte como sócio. Foram identificados repasses de R$ 46,6 mil, em 2011.

A empresa de Chater era utilizada pelo doleiro Alberto Youssef, um dos delatores do esquema, para realizar pagamentos de propina e lavagem de dinheiro. O deputado nega ligação com as irregularidades na empresa.

A negativa à tentativa da PF de levar a ação para dentro da Câmara foi utilizada por Janot para mostrar força e garantir o controle das investigações contra os políticos. A disputa entre MP e PF já provocou até a paralisação de depoimentos da Lava Jato.

Ao STF, o procurador-geral reclamou que a PF não pode solicitar diretamente diligências, mas apenas sugerir, uma vez que o MP é o responsável pela investigação. Ele alega que isso pode, eventualmente, prejudicar a estratégia definida para o caso.

EDUARDO CUNHA

Durante as investigações da Lava Jato, o Ministério Público realizou uma diligência na Câmara no curso das investigações contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Após a Folha revelar que o nome de Cunha aparece como autor dos arquivos onde foram redigidos requerimentos que delatores dizem comprovar seu envolvimento com o escândalo, procuradores foram até o sistema de informática da Casa e fizeram cópia do material, mas não chegaram a apreender nem levar nada do local.

Na semana passada, a pedido de Janot e com aval do STF, a PF realizou busca e apreensões nas residências do senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL), dois ex-ministros do primeiro governo da presidente Dilma Rousseff e três integrantes do PP.

Essa foi a primeira ofensiva do Supremo contra os políticos desde o início das investigações em março, que envolvem 13 senadores e 22 deputados. A medida provocou críticas e gerou fortes reações no Congresso.

DEPÓSITO

O líder do PP na Câmara informou nesta quinta (23) que os depósitos investigados pela Polícia Federal são referentes a uma transação financeira envolvendo a venda de dois veículos.

Nas explicações enviadas à PF, o deputado sustentou que os donos de uma franquia de restaurante de Recife decidiram comprar um veículo na empresa ADPL e usaram um crédito que possuíam junto ao dono do Posto da Torre.

Segundo Fonte, os empresários do setor alimentício pediram que o doleiro fizesse depósito de R$ 30 mil na conta da ADPL e o restante do valor foi financiado. Oito meses depois, o mesmo empresário decidiu adquirir outro veículo na concessionária e pediram que o Posto da Torre repassasse R$ 16 mil para a ADPL, como sinal do novo carro.

A defesa do líder argumentou que o deputado é apenas sócio da empresa e não tem qualquer interferência na gerência da concessionária. "A ADPL e o deputado não tem qualquer relação com o senhor Youssef ou com o Posto da Torre".

Os esclarecimentos foram enviados à PF, que decidiu manter o pedido de busca e apreensão na empresa ADPL, na casa do deputado e de familiares que também são sócios da empresa.


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