Folha de S. Paulo


Sob pressão na CPI da Petrobras, advogada deixa clientes na Lava Jato

Pedro Ladeira - 10.mar.15/Folhapress
A advogada Beatriz Catta Preta e o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco após depoimento na Câmara
A advogada Beatriz Catta Preta e o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco na Câmara

Responsável por fechar nove das 17 delações premiadas firmadas na Operação Lava Jato, a advogada Beatriz Catta Preta está se desligando de todas as ações relacionadas às investigações do esquema de corrupção na Petrobras.

Nesta segunda (20), a criminalista comunicou ao juiz Sergio Moro que largou as defesas do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e do ex-executivo da Toyo Setal Augusto de Mendonça.

Ela já informou aos seus clientes que eles têm até o dia 30 de julho para constituir um novo defensor. No meio jurídico, onde Catta Preta costuma ser atacada por críticos da delação premiada, especula-se que seus honorários estão entre R$ 2,5 milhões e R$ 5 milhões por causa.

Pessoas próximas afirmam que ela estaria de mudança para Miami (EUA), onde abriu um escritório em 2014.

A Procuradoria Geral da República informou que a mudança de advogado não afeta acordos de delação premiada já homologados nem invalida o conteúdo dos depoimentos já colhidos.

A advogada abandonou a Lava Jato duas semanas após um de seus clientes, o lobista Julio Camargo, mudar sua versão e dizer ter pago US$ 5 milhões em propina ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O deputado nega ter recebido propina.

Desde então, Catta Preta passou a sofrer pressão de aliados de Cunha. Integrante da CPI da Petrobras, o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) apresentou dois requerimentos relativos à advogada.

No primeiro, determinou que ela fosse convocada para explicar a origem do dinheiro que recebeu como pagamento dos réus da Lava Jato. No outro, dirigido a uma juíza do Paraná, exigiu a lista de todos os clientes de criminalista.

'PAU MANDADO'

No mesmo dia, Pansera agiu contra outros personagens da operação. Pediu a quebra do sigilo de parentes do doleiro Alberto Youssef -que também citou Cunha como beneficiário do esquema - e a convocação do filho de Julio Camargo à CPI.

A manobra revoltou o doleiro, que chamou Pansera de "pau mandado" do presidente da Câmara e disse que a iniciativa era uma "intimidação" por sua colaboração. Os requerimentos foram apresentados quando já se especulava que Cunha seria incluído na delação de Camargo.

Procurado para falar sobre os requerimentos de seu aliado, Cunha respondeu: "Meu nome é Eduardo Cunha e não Celso Pansera. Pergunte a ele". Pansera negou ter pressionado Catta Preta e familiares dos delatores a mando de Cunha.

Diz que houve "coincidência" entre a data de apresentação dos requerimentos e o crescimento dos rumores de que Cunha seria alvo de uma acusação.

ESTILO

Catta Preta também abandonou a defesa de clientes antigos que não estão na Lava Jato, mas tiveram, em alguma ocasião,o nome vinculado a Cunha. É o caso do empresário Lúcio Funaro.

Ele é assistido pela advogada há dez anos. Catta Preta o livrou de uma condenação no processo do mensalão ao fazer dele um delator. "Muitos advogados reclamam, mas os clientes de quase todos eles estão presos e os dela, soltos", disse Funaro.

Em junho, o empresário Milton Schahin disse ao "O Globo" que uma aliada de Cunha havia apresentado requerimentos contra ele para favorecer o grupo de Funaro em uma disputa judicial.

Ele nega ligação com Cunha e elogia a atuação de sua advogada. Apesar de atuar há anos, Catta Preta ganhou notoriedade e inimigos no meio jurídico com a Lava Jato.

Colegas de profissão costumam acusá-la de assediar clientes dos outros e aproveitar momentos de fragilidade familiar para estimular delações.

Detonador da crise com Cunha, Camargo é um exemplo do estilo de Catta Preta. O advogado dele se ausentou por três dias e, ao voltar, soube que estava demitido e que o lobista firmara a delação. Quem assumiu? Catta Preta.

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Colaborou AGUIRRE TALENTO, de Brasília


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