Folha de S. Paulo


Eduardo Cunha na oposição causa 'crisezinha política', diz Michel Temer

O vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) afirmou que a ida do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para a oposição gera uma "crisezinha política", mas não uma "instabilidade institucional".

Também responsável pela articulação política do governo Dilma Rousseff (PT), Temer tentou minimizar as críticas tanto do deputado quanto do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ao governo de Dilma Rousseff.

Após palestra em Nova York nesta segunda-feira (20), o vice disse que eventual afastamento de Cunha da presidência da Câmara é "uma decisão do Congresso Nacional".

"Quanto menos nós tivermos embaraços institucionais, melhor para o país", complementou.

Em palestra para acadêmicos e empresários americanos e de outras nacionalidades em evento no clube da Universidade Cornell, Temer antecipou-se a possíveis questionamentos sobre a situação do país e apresentou uma leitura mais otimista.

Temer fez uma ode à democracia brasileira e disse que o país vive uma "alegria cívica", com plena participação popular, "uma pequena crise econômica e um pouco da crise política, que será superada". Disse, também, que o governo tem "um apoio muito grande do Congresso Nacional".

"Perguntarão os senhores se não há problemas como a corrupção. O que importa não é a existência da corrupção, mas o combate a ela, que está sendo feito às claras, nada subterrâneo."

O vice-presidente afirmou que Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário "funcionam com toda tranquilidade e independência".

Ele mencionou ainda a necessidade de uma reforma política que reduza o número de partidos políticos.

"No Brasil, é preciso ajustar uma coalizão entre muitas vezes 20, 22 partidos. Ora, vocês imaginam as várias tendências e a natural busca de participação no governo. Isso cria uma certa dificuldade", admitiu.

PROPINA

Ele não quis comentar a delação do consultor Júlio Camargo à Operação Lava Jato, em que afirmou ter pago US$ 5 milhões em propina a Cunha. "Não é prudente", afirmou Temer.

Após a divulgação da delação, o presidente da Câmara negou as acusações e, no dia seguinte, anunciou sua saída oficial da base do governo e a ida para a oposição.

Cunha acusou o governo de ter orquestrado uma campanha contra ele e disse que há um "bando de aloprados" no Planalto que precisariam ser investigados. Segundo ele, o envolvimento de seu nome nas investigações é "tudo vingança do governo".

Questionado se a decisão do presidente da Câmara de passar para a oposição dificultará a relação com o governo Dilma, Temer voltou a dizer que a decisão é de cunho pessoal e que não foi acompanhada pelo PMDB.

Crise no Planalto

RENAN CALHEIROS

Temer também relativizou as críticas de Renan Calheiros ao governo Dilma.

Em vídeo de balanço do semestre divulgado na página do Senado na noite de sexta (17), o presidente da Casa fez duras críticas ao governo e ao plano de ajuste fiscal de Dilma Rousseff e disse que o país está na "escuridão", assistindo a "um filme de terror sem fim".

Alvo de inquérito por suspeita de participação no escândalo de corrupção da Petrobras, Renan reafirmou não ter nada a ver com o caso e elogiou no vídeo Cunha.

"Tenho uma excelente relação com o presidente da Câmara e nesse semestre atuamos conjuntamente. (...) Acho que a atuação dele, sua independência, colaborou muito para este momento do Congresso Nacional."

Ao anunciar uma extensa pauta de votações de temas econômicos no segundo semestre, o presidente do Senado disse que "serão meses nebulosos", com uma agenda "muito pesada", e criticou o ajuste de Dilma, que chamou de "desajuste social".

"Os resultados do ajuste são modestos, muito aquém do prometido. (...) Ele é insuficiente, tacanho, até aqui quem pagou a conta foi o andar de baixo. Esse ajuste sem crescimento econômico é cachorro correndo atrás do rabo, circular, irracional, e não sai do lugar. É enxugar gelo até ele derreter."

O vice-presidente Temer disse que, ao classificar o ajuste fiscal de "tacanho", "Renan quis dizer que ainda não é suficiente".

Editoria de Arte/Folhspress

ECONOMIA

O vice-presidente também negou a queda na economia prevista pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) de 1,5% do PIB em 2015.

Segundo o último boletim Focus, divulgado nesta segunda (20), o mercado prevê queda de 1,7%.

Para Temer, o país "está crescendo democraticamente, politicamente e economicamente". "Não temos crise econômica. O que há é uma necessidade de reacomodação da economia."

O desemprego "começou a preocupar" ao passar de 8%, mas o governo vem respondendo prontamente com medidas e acordos com centrais sindicais e empresas que impedirão demissões, minimizou.

Ele comparou a situação do país à de Portugal e Espanha durante a crise, em que o desemprego quase chegou a 30%. E usou também o pagamento da dívida ao FMI, em 2005, para justificar a suposta situação favorável do país.


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