Folha de S. Paulo


Juiz rebate crítica sobre depoimento de empresário

Em resposta às críticas feitas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o juiz Sergio Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato, afirmou, por meio de nota, que não pode silenciar "testemunhas ou acusados na condução do processo."

O peemedebista havia criticado, no dia anterior, o fato de Moro ter ouvido o empresário Julio Camargo, que, em seu último depoimento, acusou o deputado de pedir US$ 5 milhões em propina.

"A 13ª Vara de Curitiba conduz ações penais contra acusados sem foro privilegiado em investigações e processos desmembrados pelo Supremo Tribunal Federal. Não cabe ao juízo silenciar testemunhas ou acusados na condução do processo", afirma a nota, assinada por Moro e divulgada nesta sexta-feira (17).

Segundo o peemedebista, por ser um juiz de 1º grau, Moro não poderia ter colhido depoimentos contra alguém que tem foro privilegiado, como o presidente da Câmara –a prerrogativa é do Supremo Tribunal Federal (STF).

Camargo fez acordo para colaborar com as investigações da Operação Lava Jato em outubro do ano passado e já havia sido ouvido por Moro em outras ocasiões. A primeira vez que citou Cunha foi na quinta-feira (16).

Nas últimas semanas, ele prestou depoimentos à Procuradoria-Geral da República, que investiga Cunha e outros políticos suspeitos de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras.

Ao depor novamente à Justiça Federal, Camargo repetiu acusações que havia feito à PGR. Disse que foi chantageado por Cunha depois que a empresa que representava, a Samsung, não pagou US$ 10 milhões da propina cobrada pelo PMDB.

"Ele violou o procedimento de foro privilegiado. O juiz acha que o Supremo se mudou para Curitiba", provocou Cunha, na quinta.

Cunha informou que seus advogados ingressarão com uma reclamação no STF para que o processo seja transferido para a corte e disse: "Ser denunciado não significa que é culpado".

Cunha, porém, afirma não acreditar que Moro esteja sofrendo influência do governo, como diz estar acontecendo com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

"É óbvio que Moro não está orquestrado com o governo. Não vou brigar com ele. Mas farei reclamação para que o caso vá para o Supremo. Ele fez o que não tinha competência para fazer", disse.


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