Folha de S. Paulo


Cunha diz estar tranquilo e que delator mente sobre propina de US$ 5 milhões

Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, dá entrevista e nega acusações de Júlio Camargo
O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, dá entrevista e nega acusações de Júlio Camargo

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta quinta-feira (16) que não se deixará ser "constrangido" e "fragilizado" pelo depoimento do empresário Júlio Camargo, da Toyo Setal.

Em delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, o executivo afirmou que pagou US$ 5 milhões em propina para o parlamentar.

O peemedebista afirmou ainda que não irá alterar a gravação já feita para o seu pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão que fará na noite desta sexta-feira (17).

"Não vou fazer isso porque eu estou me pronunciando como presidente da Câmara sobre as atividades da Câmara. Não estou me pronunciando para fazer alusão ou defesa de fatos pessoais. Na medida em que eu for exercer a rede nacional para falar de fatos pessoais, eu estou aqui, perante vocês. E aqui é o foro para eu poder me defender", disse, a jornalistas.

O nome do parlamentar surgiu quando o delator respondia ao juiz Sergio Moro se ele vinha sendo pressionado a pagar propina por meio de Fernando Soares, o Fernando Baiano, tido como operador do PMDB no esquema. Camargo contou que procurou o operador para intermediar um encontro com Cunha por causa de requerimentos apresentados na Câmara dos Deputados contra ele, Camargo, e contra a empresa Mitsui.

Pelo relato de Camargo, o peemedebista cobrou o valor para si quando afirmou haver um débito "entre você [Camargo] e o Fernando Baiano".

"Tivemos um encontro o deputado Eduardo Cunha, Fernando Soares e eu. Eu fui bastante apreensivo. O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões", relatou Camargo.

Questionado se poderia fazer uma acareação com Júlio Camargo para falar "olho no olho", Cunha afirmou que "fala com quem quer que for".

"Eu não tenho dificuldade nenhuma de rebater quem quer que seja. Ele está mentindo e o delator tem que provar sua mentira. O ônus da prova é de quem acusa", disse.

JANOT

Mais cedo, em nota, Cunha voltou a atacar o Procurador-Geral da República, responsável pelo pedido de investigação contra o deputado na Lava Jato.

O presidente da Câmara disse ser ''muito estranho'' o delator ter mudado a versão na véspera de seu pronunciamento em rede nacional e acusa Rodrigo Janot de ter articulado o depoimento.

''Que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador-Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir'', disse.

Também em nota, A Mitsui afirmou que Júlio Camargo "nunca foi representante ou consultor em nenhum dos projetos da empresa".

"Em 2011, respondendo a um requerimento apresentado à Comissão de Inspeção e Controle da Câmara dos Deputados, o Tribunal de Contas da União (TCU) não identificou nenhuma irregularidade relacionada aos contratos da Mitsui & Co. com a Petrobras", afirmou.

*

Confira, na íntegra, a nota de Cunha.

Com relação à suposta nova versão atribuída ao delator Júlio Camargo, tenho a esclarecer o que se segue:

1- O delator já fez vários depoimentos, onde não havia confirmado qualquer fato referente a mim, sendo certo ao menos quatro depoimentos.

2- Após ameaças publicadas em órgãos da imprensa, atribuídas ao Procurador-Geral da República, de anular a sua delação caso não mudasse a versão sobre mim, meus advogados protocolaram petição no STF alertando sobre isso.

3- Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las.

4- É muito estranho, às vésperas da eleição do Procurador Geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir.


Endereço da página:

Links no texto: