Folha de S. Paulo


General declarou 'guerra total' à esquerda armada e 'subversivos'

Em 21 de julho de 1969, durante uma reunião do Alto Comando do Exército na ditadura militar (1964-1985), o general José Canavarro Pereira, comandante do II Exército de São Paulo, declarou "imediata guerra total contra terroristas e subversivos".

A afirmação consta de telegrama confidencial de julho de 1969 enviado pela Embaixada dos EUA no Rio a Washington e liberado à consulta no último dia 14 de abril pelo governo americano.

Poucos dias antes, Canavarro havia participado do ato de lançamento das atividades da Oban (Operação Bandeirante), um dos principais braços da repressão no período, formado por policiais e militares com apoio de empresários.

Canavarro estava às voltas com o aumento das ações promovidas pela esquerda armada no Estado. Em janeiro daquele ano, um grupo de militantes assaltou um quartel do Exército em Quitaúna (SP), retirando armas e munições. No anterior, em atos diferentes, militantes mataram o capitão do Exército norte-americano Charles Chandler e o soldado Mário Kozel Filho.

Acesse o telegrama confidencial, de 21 de julho de 1969, sobre a "guerra total" contra "subversivos"

Na presença do então chefe do Estado Maior do Exército, general Antônio Carlos da Silva Muricy, Canavarro se disse preocupado com "sinais crescentes de que problemas na economia poderiam produzir impacto desastroso" nos rumos do governo militar.

Canavarro afirmou que havia uma falha de coordenação entre as forças de segurança.

"O óbvio profissionalismo e o recente aumento acentuado da ousadia dos grupos terroristas clamam por uma reorganização imediata do esforço de segurança, disse o general à plateia", afirmou o telegrama dos EUA.

Canavarro propôs que "cada um dos quatro principais comandantes do Exército assumissem responsabilidade por uma coordenação integral e controle de todos os elementos de segurança". Suas diretrizes foram "aprovadas e suas instruções serão cumpridas em termos urgentes".

O telegrama menciona que "milícias estatais", uma referência à Oban, receberiam controle federal para "uma nova abordagem do trabalho policial".

O diplomata norte-americano responsável pela redação do telegrama, não identificado, informou que "as unidades existentes serão reorganizadas para providenciar maior mobilidade e efetividade operacional".

"[O Estado de] São Paulo tem sido deliberadamente negligenciado pelo Exército pelo temor de que os políticos locais poderiam subverter as forças federais, mas essa consideração perdeu importância no novo contexto do terrorismo urbano", diz o telegrama.


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