Folha de S. Paulo


Coronel alertou sobre 'abuso' antes de ação policial no Paraná

Henry Milleo - 27.abr.2015/AGP/Folhapress
O coronel da Polícia Militar do Paraná Chehad Elias Geha
O coronel da Polícia Militar do Paraná Chehade Elias Geha

Comandante inicial da operação que deixou quase 200 feridos num protesto contra o governo Beto Richa (PSDB), o coronel da Polícia Militar do Paraná Chehade Elias Geha alertou os superiores sobre o "flagrante abuso de autoridade" da ação e acabou afastado um dia antes do confronto, em abril.

Geha depôs ao Ministério Público do Estado sobre o episódio, no qual manifestantes, a maioria professores, foram alvos de balas de borracha.

Ele era um dos militares a cargo da operação, que pretendia impedir a invasão da Assembleia e permitir a votação do projeto que alterou a previdência dos servidores. A lei gerou uma economia bilionária ao governo, que enfrenta uma crise financeira.

Em mensagem de celular ao então subcomandante-geral da PM, Geha disse que impedir o acesso aos arredores do prédio criaria "um grave problema" para "a imagem do Estado, governo, PM e da segurança da Assembleia".

"Não vejo como impedir o acesso de pessoas, caminhão de som, montagem de barracas. Nossa missão é garantir que a Assembleia não seja invadida e, caso ocorra, reintegrar a mesma. Outras providências caracterizam abuso de autoridade", escreveu ele.

O plano das autoridades era impedir a circulação e manifestação de pessoas no entorno da Assembleia. O governo queria "blindar" o prédio, invadido no início do ano por manifestantes.

Geha se opôs ao plano. "Gostaria que reestudassem o que planejaram anteriormente", escreveu no domingo, a três dias da operação.

Na segunda, Geha se reuniu com o então secretário de Segurança, Fernando Francischini, e com o comando da polícia e fez novos alertas.

Na terça, porém, após conduzir negociação para aproximar o carro de som dos manifestantes da Assembleia, Geha foi repreendido e destituído do comando da ação.

Para a Promotoria, a "abrupta e temerária" mudança no comando mostra que as autoridades estavam dispostas "a utilizar seu poderio militar para impedir qualquer manifestação democrática".

Na semana passada, o órgão ingressou com ação de improbidade contra Richa, Francischini e quatro comandantes da operação, por violarem o direito à reunião e à livre manifestação.

OUTRO LADO

A PM informou que não iria comentar a troca de comando, pois investiga a operação num inquérito próprio, que deve ser concluído até o final do mês. Richa refuta as acusações. Geha não quis dar entrevista.


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