Folha de S. Paulo


Empréstimos do BNDES à Odebrecht no exterior disparam

Obras financiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no exterior e executadas pela Odebrecht, maior empreiteira do país e um dos alvos da Operação Lava Jato, tiveram um salto a partir de 2007, no segundo mandato do ex-presidente Lula.

Entre 1998 e 2006, segundo dados informados pelo banco, o BNDES financiou, em média, US$ 166 milhões anuais em empreendimentos da Odebrecht fora do Brasil.

Em 2007, o valor saltou para US$ 786 milhões. Até 2014, a média anual foi de US$ 1 bilhão, quase seis vezes mais que no período anterior.

Entre janeiro e abril deste ano, o banco estatal liberou mais US$ 660 milhões para obras da empresa fora do país.

A Odebrecht fez obras em 11 países com, pelo menos, R$ 31 bilhões liberados pelo BNDES desde 1998.

Foram ao menos seis hidrelétricas (no Equador, Peru, Angola e República Dominicana), uma central termelétrica (República Dominicana), um gasoduto (Argentina), além de rodovias e aeroportos, como o de Nacala, em Moçambique.

Na Venezuela, a Odebrecht construiu linhas de metrô em Caracas e Los Teques. O primeiro financiamento do BNDES para a obra ocorreu em 2001, com a liberação de US$ 107 milhões. Entre 2006 e 2009, as duas obras na Venezuela obtiveram mais US$ 747 milhões do banco.

A Odebrecht foi a responsável, em Cuba, pela construção do Porto de Mariel, terminal de contêineres localizado a cerca de 45 km de Havana.

As obras em Cuba tiveram, no total, financiamento de R$ 2,6 bilhões do BNDES.

As operações do gênero são assinadas com governos ou empresas estrangeiras, que se tornam os devedores do banco e responsáveis pelos pagamentos. A Odebrecht aparece como interveniente da exportação dos bens e serviços nacionais.

Pelo menos uma das operações ocorreu em território brasileiro. Por meio de seu braço petroquímico, a Braskem, a Odebrecht na Bahia obteve um empréstimo de R$ 1 bilhão e outro de US$ 90 milhões para implantar um polo petroquímico no Estado de Veracruz, no México, com previsão de três plantas produtoras de polietileno.

Editoria de Arte/Folhapress

'IRRISÓRIA'

A empresa considera "irrisória" e "inexpressiva" a participação das operações do BNDES quando é comparada com as atividades da empresa no exterior como um todo, segundo Márcio Polidoro, diretor na área internacional.

Segundo a Odebrecht, entre 2007 e 2014 o BNDES financiou um total de US$ 10 bilhões em exportações de serviços de engenharia em obras, e outros US$ 7,1 bilhões vieram de agências de exportação de crédito e fundos multilaterais.

No mesmo período, os contratos da Odebrecht no exterior atingiram US$ 119 bilhões. Por esses números, as operações financiadas pelo BNDES representaram 8,4% das atividades da empreiteira fora do Brasil.

As outras obras são ou foram feitas com recursos de diversas fontes, tanto instituições financeiras como desembolsos diretos de governos estrangeiros, além de recursos próprios da empresa.

A Odebrecht confirma o incremento do faturamento da companhia a partir de 2003, mas nega a associação do fato com a chegada do PT ao governo federal naquele ano.

Em evento em Brasília na última quarta (24), a presidente Dilma Rousseff defendeu a continuidade das operações do BNDES no exterior.

"Não faz qualquer sentido desprezar essa fonte de renda para o Brasil", disse.

Colaborou MARINA DIAS, de Brasília


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