Folha de S. Paulo


Consultor ligado ao PT ajudou Odebrecht

A troca de e-mails usada pela Justiça para prender o empresário Marcelo Odebrecht escondia a conexão da empreiteira com uma figura da engrenagem da CUT e do PT: André Luiz de Souza, investigado por irregularidades em investimentos feitos com recursos do FGTS.

Nas mensagens, executivos da Odebrecht relatam a Marcelo conversas com um certo André e chegam a mencionar um sobrepreço no contrato de operação de sondas da Petrobras. Por conta desta citação, o juiz Sérgio Moro concluiu que o empresário sabia do suposto esquema de corrupção na estatal e mandou prendê-lo.

Para a Polícia Federal, o tal André seria um funcionário da própria empreiteira. Especulou-se também que poderia ser o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, sócio da empresa de sondas de petróleo Sete Brasil.

Segundo a Odebrecht disse à Folha, o sujeito do e-mail é André Luiz de Souza, dono da Ask Capital. Essa consultoria, na versão da empreiteira, representava grandes empresas interessadas em se instalar num polo industrial na Bahia ao redor do estaleiro Enseada Paraguaçu, que pertence a Odebrecht, UTC e OAS.

A reportagem apurou, no entanto, que em março de 2011, quando os e-mails foram escritos, André tinha dupla militância. De um lado, negociava a criação do polo industrial com as empreiteiras do Enseada. De outro, fazia parte do comitê de investimentos do FI-FGTS, o bilionário fundo que aplica recursos do trabalhador em projetos de infraestrutura.

Naquele momento, o Enseada tentava que o FI-FGTS colocasse dinheiro no estaleiro. Chegaram a assinar um acordo de confidencialidade para discutir a operação. Segundo a Folha apurou, André defendia o projeto dentro do fundo. Ele e a Odebrecht negam.

Na Caixa Econômica, que administra o FI, o negócio não avançou porque meses depois houve uma troca de diretoria. Oficialmente, o banco informa que o acordo não podia prosperar porque o regulamento do fundo não prevê investimento em estaleiros.

Quatro meses depois da troca de mensagens entre os executivos da Odebrecht, André deixou o FI-FGTS. Renunciou sob acusação de ser o pivô de um esquema de favorecimento de empresas nos investimentos do FGTS. Uma dessas empresas é subsidiária da Odebrecht. O caso ainda está sendo investigado.

André Luiz de Souza, 51, fez carreira no movimento sindical e prefeituras do PT. Coordenador do projeto Moradia do Instituto da Cidadania, do ex-presidente Lula, chegou ao conselho curador do FGTS indicado pela CUT e participou da criação do FI-FGTS, que hoje tem R$ 36 bilhões em infraestrutura.

Nos e-mails apreendidos pela polícia, os executivos da Odebrecht discutem segredos comerciais e mencionam, por siglas, o então governador da Bahia Jaques Wagner (PT) e a presidente Dilma Rousseff. Ele é JW e ela, DR, segundo a Odebrecht.

Numa das mensagens, Marcelo pede aos executivos cuidado com o que falam para André porque iria "chegar ao ouvido de JW". Disse também que a conversa com DR tinha sido postergada.

Interessado em ter um polo naval na Bahia, Wagner acompanhava o assunto de perto. Por isso, ficou enfurecido quando o Enseada perdeu o leilão do primeiro lote de sondas da Petrobras para o estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco.

O então governador já tinha tomado providências para garantir a rápida liberação de licenças ambientais tanto para o estaleiro quanto para o polo industrial, que também teriam incentivos fiscais.

SOBREPREÇO

As mensagens descrevem ainda uma longa discussão a respeito do preço de sondas, com a participação de André. Até então, esses equipamentos eram comprados diretamente pela Petrobras. Para não aumentar a dívida da estatal, o governo decidiu criar uma empresa só para construir as sondas e alugá-las à Petrobras –a Sete Brasil.

Os estaleiros passariam a atender a Sete. Nas discussões da Odebrecht sobre o novo cenário, apareceu a menção ao sobrepreço apontado pelo juiz Sérgio Moro.

Era uma jogada financeira do pessoal da Odebrecht para apresentar à Sete valores de construção mais baixos que o de concorrentes.

Compensariam a diferença com aumento de até US$ 25 mil no valor de operação dos equipamentos, serviço que seria prestado por outra empresa do grupo.

Naquele momento, no entanto, ninguém sabia se o modelo da licitação das sondas permitiria a tal compensação. Dois diretores da estatal, Guilherme Estrella (Exploração e Produção) e Renato Duque (Engenharia) divergiam a respeito dos preços. Duque está preso, acusado de receber propina das empreiteiras em troca de contratos na estatal.

O esquema de corrupção na Petrobras foi repetido na Sete Brasil, segundo o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco. Em depoimento, ele disse que os estaleiros pagaram propina pelos contratos de construção.

Isso comprometeu os planos da Sete Brasil e dos estaleiros, que passaram a ter problemas financeiros. E levou quase ao naufrágio os planos da grande indústria naval brasileira de Dilma, do investimento na Bahia, do estaleiro da Odebrecht e dos negócios de André.


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