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Ex-diretor da Petrobras, Zelada é preso após esconder dinheiro em Mônaco

Mauro Pimentel/Folhapress
O ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada é preso pela Polícia Federal em nova fase da Operação Lava Jato
Ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada é preso pela Polícia Federal em nova fase da Operação Lava Jato

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (2), em caráter preventivo —ou seja, sem prazo de duração—, o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada.

Ele foi preso nesta nova fase da Operação Lava Jato sob a suspeita de envolvimento em crimes de corrupção, fraude em licitações, desvio de verbas públicas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Os investigadores argumentam de que há indícios de que Zelada recebeu propina na contratação de um navio sonda pela estatal. Segundo o Ministério Público Federal, também há relatório de auditoria da Petrobras que responsabiliza Zelada por irregularidades no contrato, assinado com a empresa Vantage Drilling.

O relatório afirma que o contrato —além de outros três para construção, compra e operação de navios-sonda— foi celebrado a partir de "premissas otimistas, criando uma expectativa que não se confirmou", conforme a Folha revelou em maio.

O documento atribui culpa ao ex-diretor por não ter seguido procedimentos de governança durante a contratação.

No pedido de prisão, os procuradores alegaram ao juiz federal Sergio Moro, que entre julho e agosto de 2014 —após a deflagração da Lava Jato, portanto—, Zelada transferiu 7,5 milhões de euros (cerca de R$ 25 milhões) que estavam escondidos na Suíça para uma conta no principado de Mônaco, com o objetivo de impedir o bloqueio dos valores.

Para o Ministério Público, essa movimentação demonstrou "inequívoco propósito atual do investigado de continuar a ocultar o produto de seus crimes e dificultar a investigação". Relatório da Receita Federal mostra que Zelada nunca declarou oficialmente ter ativos no exterior.

Escoltado por três agentes da Polícia Federal, ele deixou seu apartamento no Jardim Botânico, na zona sul do Rio, às 8h42 desta quinta, levando uma pequena mala. Questionado pela Folha sobre a prisão, o ex-diretor saiu sem dar declarações.

Um dos advogados de Zelada acompanhou a ação da PF em sua residência. O ex-diretor da Petrobras seguiu sozinho no carro da PF com os agentes, direto para o aeroporto, de onde foi encaminhado a Curitiba onde chegou por volta da 13h. De lá, seguiu direto para o IML, onde fez o exame de corpo de delito. Na sequência, foi para a carceragem da PF na capital paranaense.

Indicado pelo PMDB, o ex-diretor da estatal assumiu a área Internacional da Petrobras em 2008, em substituição a Nestor Cerveró, que também está preso acusado de envolvimento no esquema de corrupção na estatal.

A então presidente da empresa, Graça Foster, tirou Zelada do cargo em 2012 quando decidiu reformular as diretorias seguindo determinações da presidente Dilma Rousseff. A partir daí, peemedebistas passaram a pressioná-la para indicar outro nome da confiança do partido. Em reação, Graça Foster resolveu acumular a função com a presidência da empresa.

Folhapress
Mala de dinheiro apreendida na casa de um parente de Jorge Zelada, ex-diretor da Petrobras
Mala de dinheiro apreendida na casa de um parente de Jorge Zelada, ex-diretor da Petrobras

BLOQUEIO DE BENS

O juiz Moro determinou ainda o bloqueio de até R$ 20 milhões de Zelada e de R$ 7 milhões do consultor Raul Schmidt Felippe Júnior, ligado ao ex-dirigente da estatal e que trabalhou para o estaleiro coreano Samsung num contrato em que surgiram indícios de pagamento de propina.

Ambos mantêm negócios juntos. Eles integram a diretoria da TVP Solar, empresa de energia solar que tem escritórios na Suíça e no Brasil. A sede do braço brasileiro da companhia foi alvo de buscas da PF nesta quinta.

Segundo Moro, Felippe Jr. passou a ser suspeito de participação na lavagem de dinheiro em favor de Zelada e do ex-diretor de serviços da Petrobras Renato Duque —por isso também foi alvo do congelamento de bens.

Outra empresa de Zelada, a Z3 Consultoria em Energia Ltda., também teve seus ativos atingidos pela decisão, mas sem limite de valores.

MÔNACO

A 15ª fase foi intitulada Conexão Mônaco, em referência a operações financeiras do ex-diretor no principado de Mônaco.

Autoridades de Mônaco investigaram Zelada e descobriram a ligação dele com o consultor. Documentos remetidos pelas autoridades de Mônaco ao Brasil apontam indícios de que Felippe Jr. atuou como intermediário de uma complexa operação financeira que resultou num depósito de US$ 2 milhões (R$ 6,3 milhões) para Renato Duque, em Mônaco.

A origem do dinheiro foi a Samsung, beneficiada por um contrato que, segundo auditoria da Petrobras, teve sobrepreço de R$ 118 milhões.

Em fevereiro deste ano, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e delator na Lava Jato afirmou que Zelada também era beneficiário do esquema.

Na época, o procurador Deltan Dallagnol pediu à Justiça de Mônaco uma apuração sobre possíveis contas de Zelada e Duque no principado. A investigação resultou no bloqueio de uma conta em nome da offshore Rockfield International, onde estavam os 10,8 milhões de euros (R$ 32,8 milhões) atribuídos a Zelada, no banco Julius Baer. De Duque foram congelados 18,7 milhões de euros no mesmo banco.

Assim como procedeu no caso de Duque, foi Felippe Jr. quem apresentou Zelada a um executivo do Julius Baer para abertura da conta, em fevereiro de 2011, quando ele ainda ocupava a diretoria Internacional da Petrobras.

No dossiê do banco, constam cópias do passaporte de Zelada e de uma conta de luz de seu apartamento no Rio, além da assinatura dele em vários documentos para abertura da Rockfield e para movimentação do seu dinheiro.

OUTRO LADO

O ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada disse em e-mail encaminhado à Folha por seu advogado, Eduardo de Moraes, que não é sócio do consultor de petróleo Raul Schmidt Felippe Júnior na TVP Solar SA, empresa baseada em Genebra. O executivo afirmou que apenas faz parte do conselho da empresa.

Zelada ainda negou ter imóvel em sociedade com Schmidt ou possuir contas em Mônaco, como afirmam as autoridades do principado. Ele voltou a classificar como "inverídicas" as declarações do ex-gerente Pedro Barusco, que o acusa de ter recebido suborno na estatal.

Outro citado nos documentos enviados pelo Ministério Público de Mônaco às autoridades brasileiras, o ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque também nega ser dono de contas em Mônaco.

Leonardo Muniz, advogado de Felippe Jr., afirmou que seu cliente não trabalha no setor petrolífero desde 2007, e que hoje atua no conselho da TVP Solar —onde, segundo Muniz, tem a única relação comercial com Zelada— e em avaliações de participação em start-ups de tecnologia e na comercialização e exposições de mobiliário de design brasileiro moderno e contemporâneo na Europa.

O advogado nega que o consultor tenha apresentado Zelada e Duque ao banco Julius Baer e afirma que todas as transações financeiras de Felippe Jr. respeitam as legislações dos países onde são realizadas e que todas as atividades dele são regulares e legais.

"Cabe acrescentar: o sr. Raul não intermediou nenhum pagamento ao sr. Renato Duque e não tem nem nunca teve apartamento em conjunto com o sr. Jorge Zelada", afirmou.

Editoria de Arte/Folhapress

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