Folha de S. Paulo


Preocupado com a própria fala, Lula ameniza críticas ao governo

Ed Ferreira/Folhapress
Lula conversa com Renan Calheiros após café da manhã na residência oficial do presidente do Senado
Lula conversa com Renan Calheiros após café da manhã na residência oficial do presidente do Senado

Acuado pela crise política, o ex-presidente Lula amenizou nesta terça (30) as críticas à presidente Dilma Rousseff e pediu, durante périplo por Brasília nos últimos dois dias, apoio do PT e da cúpula do PMDB para liderar uma nova base de apoio ao governo.

Ministros petistas disseram à Folha, reservadamente, que Lula cumpriu na capital federal, na ausência de Dilma, a missão de "consertar'' as críticas que fez em privado, mas que acabaram publicadas pela imprensa, de que o governo é de "mudos'' e que a presidente está no "volume morto''.

Petistas que estiveram com Lula relatam que ele está preocupado com a repercussão de sua briga com Dilma por dois motivos. Primeiro porque mostra "enfraquecimento'' da dupla. Segundo porque, se o atual governo naufragar, o fracasso será "jogado nas costas dele'', diz um dirigente do PT.

Lula passou os últimos dias tentando desfazer a imagem de que ele a sucessora estão às turras. Na segunda, reuniu-se com o marqueteiro do PT, João Santana, seu braço direito no Instituto Lula, Paulo Okamotto, o presidente do PT, Rui Falcão, e o secretário de comunicação do partido, José Américo Dias, para avaliar o cenário político. À noite, jantou com as bancadas petistas do Congresso.

A linha do discurso foi a mesma: conciliação e unidade para PT e governo "virarem a página'' e saírem da crise. Na avaliação de um aliado, as crises do ex-presidente, do PT e de Dilma são, na verdade, uma só. Assim, a estratégia de reação precisa ser unificada.

Para um ex-ministro petista, Lula e Dilma têm, juntos, "chance'' de sobreviver; separados, estão "acabados''.

MERCADANTE

Lula também buscou apoio do PMDB para aparar arestas com o governo. Na manhã desta terça, tomou café com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e a cúpula da sigla aliada.

Ouviu reclamações de que o governo está "paralisado'' e de que o núcleo do Planalto trava acordos e negociações com a base aliada.

Um peemedebista disse a Lula que o governo precisa ter "menos meio campo'' e mais "chute a gol''.

Os senadores não personalizaram as críticas, mas, nos bastidores, afirmam que o recado é ao ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil).

Petistas também relataram a Lula problemas para a liberação de cargos e emendas. E disseram que o governo "não valoriza" o partido.

Ainda nesta terça, Mercadante se reuniu com Rui Falcão para tentar sanar a questão dos cargos de segundo e terceiro escalão que motivam insatisfações no PT.

Ao chegar ao Senado, Renan disse que Lula estava em "missão de paz". Segundo ele, o ex-presidente discutiu a reforma política e defendeu a manutenção da reeleição no Executivo, por considerar quatro anos "muito pouco" tempo para um gestor público.

"Se fosse um mandato de cinco, tudo bem, mas ele acha difícil a extensão para cinco anos", afirmou Renan.

A Câmara aprovou o fim da reeleição e o mandato de cinco anos, mas o Senado deve rejeitar, pois os senadores têm, hoje, oito anos.


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