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Lula pede que PT 'vire a página' do ajuste e defenda o governo Dilma

Pedro Ladeira/Folhapress
O ex-presidente Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, em reunião com a bancada petista no Congresso
O ex-presidente Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, em reunião com a bancada petista no Congresso

Em reunião com a bancada do PT no Congresso, nesta segunda-feira (29) em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou que os parlamentares do partido "virem a página" do ajuste fiscal e "não se acanhem" diante da oposição, saindo em defesa do governo da presidente Dilma Rousseff.

Diversos setores do PT reclamaram do ajuste fiscal proposto pelo Palácio do Planalto, utilizando-se da crítica de que muitas medidas atingiram principalmente os trabalhadores, base eleitoral do partido.

Lula concordou com as queixas, mas disse que é a hora de "virar a página" e "concentrar forças" na agenda positiva proposta por Dilma.

O ex-presidente está preocupado com a repercussão negativa das críticas abertas que fez sobre a gestão de sua sucessora e pediu união das bancadas em torno do governo, com um "enfrentamento enfático" diante da oposição.

"Temos que esquecer o ajuste e passar para o controle do cenário econômico do país", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), ao sair da reunião que durou cerca de quatro horas.

O líder do partido na Câmara, José Guimarães, entoou o discurso. "Vamos enfrentar a oposição com o mesmo radicalismo que eles nos enfrentam. Temos que mostrar para a sociedade o cerco que eles querem montar contra o PT, criminalizando o partido", concluiu.

Segundo a Folha apurou, Lula está irritado com o governo, mas acredita que agora é preciso assumir posição em defesa da presidente e adotar o discurso de que Dilma tem sinalizado para uma agenda positiva, com o plano de concessões, as negociações para a alternativa ao fator previdenciário, entre outras medidas.

O ex-presidente decidiu acompanhar de perto a articulação da bancada, inclusive com viagens mais frequentes a Brasília nos próximos meses.

A postura é diferente da que vem sendo adotada por Lula até poucos dias atrás, quando fez críticas abertas à gestão Dilma e disse que tanto o PT, como ele e a presidente estavam "no volume morto".

BRASÍLIA

O ex-presidente viajou a Brasília nesta segunda-feira (29) –enquanto Dilma está em viagem oficial aos Estados Unidos– para uma série de reuniões em meio às acusações de corrupção envolvendo a cúpula do Planalto.

O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Edinho Silva, foram citados na delação de Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC.

Em seus depoimentos, o empreiteiro confessou que pagou propina para fazer negócios com a Petrobras e relatou encontros em que discutiu contribuições políticas com Mercadante e Edinho, que negam qualquer irregularidade.

Lula telefonou nesta segunda a Mercadante e pediu uma análise do real cenário político do governo. O ex-presidente reconheceu que a crise que acomete o PT e o Planalto chegou a um ponto delicado e que agora é hora de alinhar o partido e o governo para reconstruir a imagem de Dilma e do partido.

O ex-presidente também se reuniu com o marqueteiro João Santana, que tem passado os últimos meses na Argentina para tocar a campanha de José Manuel de la Sota, pré-candidato presidencial. A vinda do publicitário ao Brasil, no entanto, já estava marcada com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, para falar sobre o programa do partido, que irá ao ar em agosto.


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