Folha de S. Paulo


Dono da UTC relatou propina a senador para enterrar CPI, diz revista

Zanone Fraissat - 14.nov.2014/Folhapress
Ricardo Pessoa, dono da UTC, ao se entregar na sede da Polícia Federal em São Paulo
Ricardo Pessoa, dono da UTC, ao se entregar na sede da Polícia Federal em São Paulo

O dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, disse aos procuradores da Operação Lava Jato que negociou com o senador Gim Argello (PTB-DF) o repasse de R$ 5 milhões a quatro partidos para enterrar uma CPI criada pelo Congresso para investigar a Petrobras no ano passado.

Argello era vice-presidente da CPI e foi o porta-voz da negociação porque, segundo Pessoa, exercia influência sobre o presidente da CPI, o então senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e o relator, deputado Marco Maia (PT-RS).

Vital do Rêgo atualmente é ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), posto que assumiu em fevereiro.

Pessoa diz que se encontrou duas vezes com Argello para tratar do assunto, na casa do senador no Lago Sul, em Brasília. Além de esvaziar a CPI, o empreiteiro pretendia impedir sua convocação para prestar depoimento aos parlamentares. A comissão foi encerrada após alguns meses sem ter avançado nas investigações nem convocado empreiteiros para depor.

Informações sobre a acusação a Argello foram antecipadas pela revista "Veja" na edição que começou a circular neste sábado (27) e confirmadas depois pela Folha.

De acordo com Pessoa, os R$ 5 milhões foram distribuídos em doações a quatro partidos, PR, DEM, PMN e PRTB, a pedido de Argello.

Procurado pela Folha, o senador não retornou aos contatos feitos na manhã de sábado. Na noite de sexta (26), ele disse que todas as doações recebidas da UTC foram declaradas à Justiça Eleitoral. Vital do Rêgo e Marco Maia também não foram localizados pela reportagem. Até o momento, nenhum deles ainda havia sido alvo de investigação na Lava Jato.

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, outro delator da Lava Jato, disse no ano passado que pagou propina ao falecido senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) para enterrar outra CPI criada para investigar a estatal em 2009.

COLLOR

Em sua delação premiada , Pessoa também afirmou ter pago propina ao senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL). Segundo a revista "Veja", Collor teria usado sua influência na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, para facilitar negócios para a UTC.

O empreiteiro afirma que pagou R$ 20 milhões a Collor por intermédio do seu ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, que tinha negócios com o doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de corrupção descoberto na Petrobras.

Por meio de nota, Leoni Ramos disse que as declarações de Pessoa "revelam uma profunda e completa desconexão com a verdade e, portanto, são estrategicamente mentirosas". Afirmou repudiar que tenha recebido ou intermediado o pagamento de propinas.

Youssef, que também fez acordo para colaborar com as investigações, diz que pagou a Collor R$ 3 milhões em propina associada a outro negócio, entre a BR Distribuidora e uma rede de postos de combustível em São Paulo.

Collor é alvo de um inquérito aberto com autorização do Supremo Tribunal Federal por causa das suspeitas em torno dessa transação. Procurada neste sábado, sua assessoria não atendeu aos contatos da reportagem.

PRESSÃO AO PT

Em sua delação, Pessoa citou doações provenientes de propina à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014 e implicou o envolvimento do atual ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, e do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, segundo a "Veja".

No caso de Mercadante, o relato da delação de Pessoa diz que ele fez repasses ilegais à campanha do petista ao governo de São Paulo em 2010. De acordo com a prestação de contas apresentada pelo PT à Justiça Eleitoral em 2010, a UTC doou R$ 250 mil para a campanha de Mercadante.

Por meio de sua assessoria, Mercadante afirmou que todas as contribuições para sua campanha em 2010 foram feitas de acordo com a legislação eleitoral e estão registradas na prestação de contas entregue ao TSE.


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