Folha de S. Paulo


Preso, diretor da Odebrecht liga Sérgio Cabral a obra suspeita

Alessandro Buzas - 9.out.2007/Folhapress
O presidente da Firjan, Eduardo Eugênio, e o então governador do Rio, Sérgio Cabral, em 2007
O presidente da Firjan, Eduardo Eugênio, e o então governador do Rio, Sérgio Cabral, em 2007

E-mail interceptado pela Polícia Federal indica a participação do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) para incluir a Odebrecht em consórcio que levou um contrato bilionário no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio).

A citação ao peemedebista foi feita pelo diretor da Odebrecht Rogério Araújo, preso na última sexta (19) no curso da Operação Lava Jato.

Em e-mail de 4 de outubro de 2007, ele informa a outros quatro executivos da companhia a inclusão da Odebrecht junto à Mitsui e à UTC na obra do ciclo de água e utilidades, o maior contrato do Comperj.

"Petrobras/PR vai conversar com o Governador sobre este novo arranjo com a participação da CNO (é importante Sergio Cabral ratificar! e também definir o seu interlocutor neste assunto que atualmente junto a Petrobras e Mitigue é o Eduardo Eugenio", escreveu Araújo aos outros executivos.

Editoria de Arte/Folhapress

CNO é Construtora Norberto Odebrecht. "Petrobras/PR" seria o então diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, preso em 2014 e um dos delatores do esquema de cartel e propina na estatal.

Já Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira é o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Rio), bastante próximo de Sérgio Cabral.

O e-mail de Araújo integra um conjunto de mensagens anexadas à fase Erga Omnes da Lava Jato, que levou à prisão executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez.

Segundo Araújo, o empresário Júlio Camargo, representante das japonesas Mitsui e Toyo, esteve naquele mesmo dia na Petrobras e foi orientado a aceitar a Odebrecht no consórcio. Ricardo Pessoa, da UTC (à época chamada Ultratec), receberia "a mesma orientação de fazer a parceria com a CNO".

Junto com a Toyo e a UTC, a Odebrecht integrou o consórcio TUC, que foi escolhido pela Petrobras para construção, por US$ 3,8 bilhões (R$ 11,59 bilhões), do ciclo de água e utilidades, o maior contrato do Comperj.

INDÍCIOS DE PROPINA

Iniciada em 2012, a obra está parcialmente paralisada e há indícios de propina. O custo do Comperj, que após aditivos e novas estimativas chega a US$ 47 bilhões, foi questionado pelo Tribunal de Contas da União.

Dois executivos da Toyo que fazem delação, Júlio Camargo e Augusto Mendonça, dizem que houve pagamento de propina na obra do Comperj para os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque e para o ex-gerente Pedro Barusco.

Peritos da PF detectaram pagamentos de R$ 18 milhões do consórcio TUC para a Treviso Empreendimento, uma das empresas controladas por Júlio Camargo, e que seria usada para pagar propina a dirigentes da Petrobras.

OUTRO LADO

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) negou que tenha "ratificado" a entrada da Odebrecht em consórcio para obra do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio), conforme diz e-mail de um dos diretores da empreiteira preso na última sexta-feira (19).

"O ex-governador Sérgio Cabral jamais interferiu em quaisquer obras da Petrobras, inclusive as do Comperj", afirmou a assessoria do peemedebista. "No que diz respeito ao abastecimento de água para empresas e residências no Rio de Janeiro, o governo do Estado tem como empresa responsável, a Cedae, tendo a companhia absoluta autonomia nas suas decisões", acrescentou.

Também mencionado pelo executivo da Odebrecht Rogério Araújo, o presidente da Federação das Indústrias do Rio, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, disse que jamais tratou do assunto com Cabral: "Jamais tratei de interesse desta ou daquela empresa no Comperj com o ex-governador. Meu nome foi citado numa troca de e-mails de terceiros (...). A simples menção a meu nome em meio è lama trazida à tona pela Lava Jato é ultrajante", disse.


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