Folha de S. Paulo


Presidente da Odebrecht achava que não seria preso

Eduardo Knapp - 28.ago.2014/Folhapress
O empresário Marcelo Odebrecht, dono da construtora, preso nesta sexta (19), em seu escritório
O empresário Marcelo Odebrecht, dono da construtora, preso pela Polícia Federal

Preso na manhã desta sexta-feira (19) na 14ª fase da Operação Lava Jato, o empresário Marcelo Odebrecht vinha pedindo a seus executivos que defendessem o grupo das acusações de ter pago propina para conseguir obras na Petrobras.

Chegou a enviar uma carta interna a seus milhares de funcionários pedindo isso.

Dizia que o fato de nenhum executivo do grupo ter sido preso até então, ao contrário do que ocorreu com a maior parte das grandes empreiteiras, depunha a favor da companhia. Segundo pessoas que estiveram com ele recentemente, Marcelo achava muito remota a possibilidade de ser preso, embora outros executivos do grupo não mostrassem tanta certeza.

De todas as companhias envolvidas na Operação Lava Jato, a Odebrecht é a de maior poder econômico e influência política. Sua construtora é a maior do país, e a Braskem é líder da petroquímica na América Latina.

Na política, está entre os principais financiadores de campanhas e seus controladores são próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de deixar o governo, o ex-presidente teve viagens a países da África e à América Latina bancadas pela Odebrecht.

Marcelo sempre negou a participação de sua empresa no esquema de corrupção da Petrobras. No ano passado, em entrevista à Folha, o empresário afirmou que é obrigação dos empresários tentar influenciar as decisões do governo, sempre de maneira legítima e transparente.

"Não faria nenhum pedido que não pudesse ser feito de maneira transparente. Que mais tarde pudesse me deixar mal com meus filhos", afirmou, na ocasião.

Marcelo assumiu um dos maiores grupos empresariais do país, fundado pelo avô Norberto, no começo de 2009. Casado e pai de três filhas, é uma pessoa de opiniões fortes.

Esse traço de personalidade lhe custou a antipatia da presidente Dilma Rousseff, que achava Marcelo arrogante desde que era ministra. A opinião só mudou depois de uma viagem a Cuba, em que a presidente ficou bem impressionada com a relação próxima dele com os irmãos Fidel e Raul Castro.

A Odebrecht constrói no país caribenho o porto de Mariel, com ajuda de um polêmico financiamento do BNDES.

Marcelo comanda hoje um conglomerado com faturamento de R$ 107,7 bilhões, que lidera nos segmentos de construção civil e petroquímica, mas também está presente nos ramos imobiliário, bioenergia, óleo e gás e naval.

No ano passado, a empresa que surgiu na Bahia completou 70 anos de história, com 168 mil funcionários.

Por causa da fama de pavio curto, Marcelo também enfrentou alguma desconfiança da parte dos funcionários mais antigos quando assumiu a empresa. Sob seu comando o grupo aumentou as apostas nas concessões de serviços públicos, na área de saneamento básico e no mercado externo.

Hoje a empresa atua em 21 países e já obtém 49% de sua receita no exterior.


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