Folha de S. Paulo


Após subir o tom contra o PT, Cunha recebe grupos pró-impeachment

Pedro Ladeira/Folhapress
O peemedebista Eduardo Cunha no salão verde da Câmara
O peemedebista Eduardo Cunha no salão verde da Câmara

Um dia após subir o tom contra o PT, em reação a críticas de militantes do partido, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu nesta segunda-feira (15), em São Paulo, representantes de movimentos que pedem impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Cunha disse à Folha que foi uma ''coincidência'', já que o encontro estava marcado antes do embate com o PT.

Na reunião com quase 30 pessoas de cerca de dez grupos, Cunha foi cobrado sobre o andamento do pedido de impeachment entregue em maio pelo Movimento Brasil Livre. Ele respondeu que havia solicitado uma análise técnica do documento.

"Todos temos simpatia pelas ações do Cunha e pela saída da presidente –ou por impeachment ou por renúncia. Mas o foco [da reunião] foram as reformas, como a política e econômica'', afirmou Danilo Amaral, do grupo Acorda Brasil

Organizador do encontro, ele é um dos que hostilizaram o ex-ministro Alexandre Padilha (PT-SP) num restaurante em São Paulo, em maio.

A reunião ocorre em meio a mais um embate entre petistas e Cunha. No final de semana, durante o 5º Congresso do PT, militantes ecoaram gritos de "fora, Cunha" enquanto era discutida a proposta sobre o rompimento com o PMDB e outras siglas.

Cunha ironizou no Twitter: "Quero agradecer as manifestações de hostilidade no congresso do PT. Isso é sinal que estou no caminho certo. Ficaria preocupado se fosse aplaudido lá''.

A relação de Cunha com o PT sempre foi tensa, mas piorou desde sua eleição, em fevereiro, quando o partido atuou para deixá-lo de fora do comando da Câmara.

Desde que assumiu o posto, ele tem articulado uma série de derrotas para o governo e tem avançado com uma pauta na contramão da agenda do Planalto, como a redução da maioridade penal, a revisão do estatuto do desarmamento, além de articulado uma reforma política contrária ao governo.

A fala de Cunha tem ainda como pano de fundo um recado ao Planalto. O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) tentou esvaziar os poderes de articulação política de Michel Temer ao propor uma troca no comando da Secretaria de Relações Institucionais, o que irritou o PMDB.

Dilma transferiu a articulação política do governo para Temer em abril, no auge da crise política entre o Executivo e o Congresso. Com isso, o vice passou a acumular as funções e colocou na SRI uma equipe de sua confiança.

Cunha disse que se houver ''sabotagem'' a Temer haverá ruptura com o governo.

REFLEXO NA PAUTA

Ao chegar à Câmara dos Deputados na tarde desta segunda (15), Cunha voltou a criticar o PT.

"O PT sempre insiste em buscar agressões. E não foi só o movimento que foi fazer coro. Ali [no congresso do partido] teve pessoas que defenderam a manutenção da aliança atacando. Então, mostra que é um ataque continuado", disse.

Cunha lembrou que a formação do chamado "blocão", grupo de partidos da base que se uniu no início do ano para derrotar o governo, foi motivada por ataques feitos contra ele pelo presidente do PT, Rui Falcão.

A nova crise pode ter reflexos na pauta da Câmara. Cunha e peemedebistas ameaçam dificultar a votação das desonerações se a presidente Dilma não desautorizar as investidas petistas.


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