Folha de S. Paulo


Haddad diz pensar no avô libanês diante de dilemas morais

Um mascate vendendo todo o seu estoque em Goiás a um cliente, ao dizer que é parente do padre libanês Habib al-Haddad. Uma briga com comandantes franceses em um vilarejo na fronteira atual com a Síria. Histórias da imigração aos EUA e ao Brasil.

Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, interrompe sua agenda para conversar com a reportagem da Folha e lembrar-se dos relatos que ouviu, enquanto crescia, sobre seu avô –fundamentais durante sua formação, diz.

"Sempre penso nele quando estou diante de um dilema moral. A figura dele me vem à cabeça", afirma o prefeito, que carrega hoje um retrato do avô na carteira.

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Folha - Como foi sua visita ao vilarejo de Ain Ata?
Fernando Haddad - Foi muito legal. Eu nunca tinha ido ao Líbano. Fiz uma visita ao Oriente Médio como ministro da Educação. Tirei um dia para visitar o lugar. O meu avô é uma referência para nós. Eu conheci a casa onde ele morou.

Por que ele é uma referência?
Ele era uma pessoa muito forte. Era um líder religioso. Deixou um legado de conciliação, de justiça. Foi muito procurado para moderar conflitos. Ele salvou muitas vidas. Era uma pessoa incomum. Morreu nos anos 1960 e ainda hoje ouço histórias.

Como essas histórias eram contadas na sua casa?
Era quase um ritual semanal. Era difícil passar dias sem ouvir meu pai, meu tio ou um outro imigrante falando do meu avô. Ouvi por exemplo a história do bate-boca que ele teve com os comandantes das tropas francesas que estavam em Ain Ata.

Ainda há uma forte lembrança em Ain Ata, também.
Ele saiu de lá há 60 anos e parece que faz duas semanas. Tenho um retrato dele em casa e carrego uma fotografia dele na minha carteira. Ele era cultuado. Era uma pessoa incomum.

Qual foi sua impressão do vilarejo?
É uma vila. Meu pai era camponês, arava terra. Colhia o que plantava. Era uma família do campesinato. Meu avô se tornou padre depois de casado. Ele se tornou padre a pedido do patriarca na Síria.

Como essas histórias influenciaram a sua carreira?
Me influenciou na formação. É muito forte. Se você entrevistar qualquer um dos meus 20 e tantos primos por sorteio, todos vão dizer que foram formados pelo meu avô.

Você consegue pensar em uma situação específica?
Sempre penso nele quando estou diante de um dilema moral. A figura dele me vem à cabeça.


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