Folha de S. Paulo


Deputados usaram foto dos EUA para protestar contra gays no Brasil

Na faixa exposta na Câmara dos Deputados na quarta-feira (10), parlamentares evangélicos e católicos expuseram oito imagens do que consideram exemplos de ofensa à família e à fé cristã.

Sobre os dizeres "Você é a favor disso?", e fazendo relação com o patrocínio público, estavam fotos de uma transexual simulando uma crucificação durante a Parada Gay, de manifestantes das marchas da Maconha e das Vadias e de um "Jesus gay" beijando outro homem.

A última imagem, porém, não foi feita em nenhum evento com incentivo de empresas públicas brasileiras. Na verdade, não se trata nem de imagem feita no Brasil.

A mesma cena pode ser encontrada em uma reportagem de 2014 no site "Now The End Begins", que afirma ser uma "revista que registra" o apocalipse e outros sites e blogs estrangeiros.

A reportagem em que a foto foi publicada trata da polêmica que se criou nos Estados Unidos com o anúncio de que a peça "Corpus Christi", de Terrence McNally, iria ganhar um versão para as telas.

A montagem retrata Jesus como um homem gay e, desde que foi encenada pela primeira vez, em 1998, teve forte rejeição de setores religiosos daquele país.

"Vou levar isso ao conhecimento das frentes [evangélica e católica] para que elas possam dar uma satisfação ao público", disse à Folha o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Paulo Freire (PR-SP).

Segundo ele, o protesto de quarta foi organizado pelos católicos "com apoio dos evangélicos". "Ficamos indignados com coisas que aconteceram na av. Paulista durante a Parada Gay", afirmou.

Outra foto estampada na mesma faixa com a legenda "Profanação duarante [sic] a Marcha das Vadias" mostrava duas mulheres seminuas e crucificadas se beijando em frente a uma igreja.

Esta também não corresponde ao evento citado. Trata-se de manifestação promovida pelas ativistas Sara Winter e Bia Spring, em outubro passado, em protesto a favor do voto laico, em frente a Igreja da Candelária, no Rio.

O ato foi organizado após o discurso do então candidato à presidência Levy Fidelix (PRTB) sobre a comunidade LGBT. "Foi o discurso de ódio do candidato, que pediu que a maioria heterossexual deveria combater a minoria homossexual, que nos levou a fazer este manifesto", afirmou Winter ao "O Dia" em 4 de outubro de 2014.

Autor do projeto de lei que torna crime hediondo a profanação de símbolos religiosos, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) disse que se sentiu emocionado com o ato na Câmara.

Ele afirma não ser contrário à Parada Gay, mas sim ao "bullying religioso" –promovido, frisa ele, por "poucos manifestantes".

Sobre o uso da foto do "Jesus gay", Rosso diz que "é irrelevante se ela foi feita na China ou em qualquer outro lugar". "A imagem símbolo é a crucificação ao longo da Parada LGBT. Foi a que mais me marcou. Poderiam ser 150 mil imagens, um trilhão, mas a imagem símbolo para mim é a da crucificação."

"Não é uma foto específica, mas um conceito, e o que está sendo cada vez mais recorrente: a mensagem que está sendo passada por esses manifestantes", afirmou.


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