Folha de S. Paulo


Lula queixa-se a Temer de chamada de Okamotto por CPI e dá bronca no PT

Pedro Ladeira/Folhapress
Ao lançar campanha de arrecadação do PT, Lula mostra um cartão de crédito do partido
Ao lançar campanha de arrecadação do PT, Lula mostra um cartão de crédito do partido

O ex-presidente Lula telefonou nesta quinta-feira (11) para o vice-presidente, Michel Temer (PMDB) e reclamou da convocação de Paulo Okamotto pela CPI da Petrobras.

Em tom de cobrança, segundo a Folha apurou, o ex-presidente quis saber o que havia acontecido para que a convocação do presidente do Instituto Lula fosse aprovada.

Okamotto, braço direito de Lula na entidade, será chamado para explicar as doações de R$ 3 milhões feitas ao Instituto Lula pela empreiteira Camargo Corrêa, investigada no esquema de corrupção da Petrobras.

Temer disse que também foi surpreendido pela notícia na tarde de quinta. O presidente da CPI, Hugo Motta, é do PMDB da Paraíba.

O vice, no entanto, garantiu a Lula que não havia uma operação apoiada pelo PMDB contra o petista. Ele ficou de conversar com Motta e com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre o episódio para dar uma posição a Lula.

Zanone Fraissat - 8.mai.2013/Folhapress
O executivo Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula
O executivo Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula

Cunha negou qualquer relação com a convocação e disse que não apoiava o movimento.

BRONCA

Lula aproveitou o 5º Congresso do PT, em Salvador, para dar uma bronca nos parlamentares e demais representantes da cúpula do partido. Ele reclamou da falta de articulação da bancada que permitiu a convocação de Okamotto.

Segundo participantes, Lula afirmou que o Instituto FHC, vinculado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também recebeu recursos da empreiteira. "Como vocês deixam convocar o Okamotto? Por que não convocam o iFHC?", disse.

Ainda segundo participantes, Lula cobrou uma atuação mais aguerrida da bancada em defesa do PT.

O ex-ministro da Saúde e atual secretário de Relações Governamentais da Prefeitura de São Paulo, Alexandre Padilha, endossou as críticas ao circular entre integrantes da bancada petista: "Como vocês deixaram isso acontecer?", repetia.

'COINCIDÊNCIA'

Nesta quinta, Okamotto disse à Folha ser ''muita coincidência'' a divulgação às vésperas do 5º Congresso do PT do laudo mostrando a doação da Camargo Corrêa.

"Você faz luta política e tenta potencializar. Toda vez que tem evento importante do PT há algum tipo de movimentação em algum lugar para tentar desqualificar o partido, isso é uma coisa notória. Sempre acontece alguma coisa na véspera das coisas do partido'', disse Okamotto.

O presidente do Instituto Lula disse que não é 'novidade' que Lula cobre por palestras.

"Se for para explicar as doações das empresas, já é público e notório que Lula faz palestras para ramo de construção, bancos, alimentos, indústria de bebidas. Quando são palestras de caráter empresarial, elas costumam ser cobradas, tem cachê. Tem contrato e é tudo contabilizado."

Para Okamotto, há uma ''luta política'' para desgastar Lula e o PT.

"Lula é do PT, é uma operação para atingir todo mundo que é do PT. Tudo que se faz, que se tenta destruir tem o objetivo de pegar o PT e os petistas todos.''

CONVOCAÇÕES

A votação da convocação de Okamotto ocorreu sob protestos do relator Luiz Sérgio (PT-RJ) e dos parlamentares petistas, que acusaram Motta de motivar a pauta por causa da abertura do congresso do PT nesta quinta, em Salvador.

A sessão foi tensa, com teve bate-bocas entre o presidente e parlamentares do PT, que tentaram adiar a votação. "Estão fazendo o possível para expôr o PT no dia do seu congresso", afirmou o deputado Afonso Florence (BA), vice-líder do partido na Câmara.

A CPI também aprovou a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico do ex-ministro José Dirceu e quatro acareações envolvendo o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto: dele com o ex-gerente da Petrobras e delator da Lava Jato Pedro Barusco, uma outra com o ex-diretor da estatal e também delator Paulo Roberto Costa, mais uma com o ex-diretor Renato Duque e uma quarta com Barusco e Duque ao mesmo tempo.

Também está prevista uma acareação apenas entre Barusco e Duque.

Foi aprovado ainda requerimento convocando o tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, José de Filippi Júnior –a Lava Jato investiga se o esquema de corrupção da Petrobras abasteceu a campanha da presidente.

-

h3. A TRAJETÓRIA DE PAULO OKAMOTTO
* 1981 Integrou a diretoria do sindicato dos metalúrgicos do ABC, onde conheceu Lula

  • 1989 Coordenou a primeira campa-nha à Presidência do petista
  • 2003 Pagou uma dívida de Lula com o PT no valor de R$ 29,4 mil. Caso foi alvo da CPI dos Bingos
  • 2005 Assumiu a presidência do Sebrae, onde ficou até 2010
  • 2011 Tornou-se presidente do Insti-tuto Lula, que ajudou a fundar
  • 2015 CPI da Petrobras pede a Okamotto que explique doação de R$ 3 milhões da Camargo Corrêa ao Instituto Lula

Endereço da página:

Links no texto: