Folha de S. Paulo


Deputados petistas lançam manifesto com críticas ao governo e ao partido

Insatisfeitos com alguns rumos que o partido tem tomado, a bancada do PT na Câmara divulgou nesta quinta-feira (11) um manifesto intitulado "Mudar o PT para continuar mudando o Brasil", em que propõe alterações internas para a sigla e faz críticas à política econômica do governo.

O documento será discutido durante o 5º Congresso do PT, que começa nesta quinta em Salvador (BA).

Com 33 assinaturas de apoio, o que representa pouco mais da metade da bancada de 63 deputados, o texto afirma que o partido enfrenta seu "momento mais difícil" nos 35 anos de existência e admite erros cometidos desde que assumiu o governo federal, com a eleição do ex-presidente Lula.

O partido está no auge daquela que talvez seja a maior crise de sua história, com notável aumento de sua rejeição, o governo mal avaliado e dirigentes acusados de corrupção pela Operação Lava Jato, que investiga desvios de dinheiro e pagamento de propinas na Petrobras.

Afetado pela forte crise de imagem, o PT vê até ameaçada a eleição em cidades do Nordeste em 2016, região que garantiu a reeleição de Dilma em 2014.

Assinado por deputados de seis correntes partidárias –Mensagem ao Partido, CNB, EPS, Articulação de Esquerda, Movimento PT e Militância Socialista–, o documento reforça uma proposta, já encabeçada por dirigentes do partido, de se realizar um novo encontro partidário em novembro com o objetivo de reafirmar compromissos da sigla com o país.

O novo encontro também valeria para fazerem um balanço com a atualização do programa do partido e revisar a organização interna, com a eleição de uma nova direção.

"O PT cumpriu um papel muito importante na sociedade e temos o desafio de continuar avançando, mas reconhecemos também que erros foram cometidos e eles têm de ser revistos", afirmou o deputado Paulo Teixeira (SP). Para ele, o documento irá provocar uma discussão no partido que "abre um processo consistente de oxigenação" da legenda.

Segundo Teixeira, os deputados não defendem, necessariamente, a saída do presidente da sigla, Rui Falcão, ao propor mudanças na direção. "O Rui é um bom quadro. Mas ao pedirmos mudanças precisamos repactuar a direção para o início desse novo ciclo", disse.

ALIANÇAS

O texto também propõe uma revisão das alianças feitas pelo PT com outros partidos nos últimos anos. Segundo Teixeira, o PT precisa se reaproximar dos movimentos sociais e de siglas que estejam mais alinhadas ao conteúdo programático historicamente defendido pela sigla.

Os deputados rejeitaram a tese de um rompimento com o PMDB ou com outros partidos da base aliada mas admitiram que o PT precisa se reposicionar.

"Precisamos partir de um ponto mais programático. Não se trata apenas de alianças partidárias, mas também de alianças sociais. Precisamos reorganizar e nos aproximar do campo democrático para não deixar a direita avançar", disse.

Os deputados também defendem a gestão compartilhada das finanças petistas, acabando com o cargo de tesoureiro da sigla. Desde 2006, a Secretaria de Finanças do PT viu dois de seus tesoureiros serem presos após denúncias de corrupção -Delúbio Soares, condenado no mensalão, e João Vaccari Neto, alvo da Operação Lava Jato, que investiga esquema de desvio de dinheiro na Petrobras.

Os petistas defendem ainda a expulsão de quadros do partido comprovadamente envolvidos em casos de corrupção e pedem uma campanha mais intensa para a realização de uma efetiva reforma política, com o fim do financiamento privado de campanha, cotas para mulheres no Congresso e a convocação de uma Constituinte exclusiva para reformar o sistema político.

Questionado sobre a reforma política que está sendo votada pela Câmara dos Deputados nas últimas semanas, Teixeira a classificou como uma "contrarreforma" e defendeu que o partido continue tentando pautar suas bandeiras históricas.

PETROBRAS

Ao elencar os avanços obtidos pelo governo nos últimos 12 anos, os deputados citam o fortalecimento da Petrobras após o descobrimento do pré-sal, com a adoção do sistema de partilha e com o aumento da participação da União no controle acionário da empresa.

No entanto, eles admitem que "nem tudo saiu como queríamos".

"Hoje, a partir de fatos graves envolvendo a empresa, somos atingidos como governo e como partido. [...] O PT foi gradualmente perdendo a capacidade de formular e de pautar, por si mesmo, o debate nacional", diz o documento.

O texto afirma, em seguida, que o ajuste fiscal promovido pelo Planalto é fruto da "incapacidade de interferir nos rumos de nossos governos".


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