Folha de S. Paulo


Dilma diz que congresso do PT vai ser um 'momento de reflexão'

Stephanie Lecocq/Efe
A presidente Dilma Rousseff em Bruxelas, durante reunião entre a União Europeia e a Celac
A presidente Dilma Rousseff em Bruxelas, durante reunião entre a União Europeia e a Celac

A presidente Dilma Rousseff foi sucinta nesta quinta-feira (11), em Bruxelas, ao comentar o congresso do PT começa nesta noite em Salvador.

"Eu acho que o congresso vai ser importante para o PT, um momento de reflexão", afirmou em entrevista coletiva aos jornalistas, após participar da cúpula entre a União Europeia e a Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribe).

Questionada pela Folha por que é hora de refletir, ela limitou-se a responder: "Porque é um momento de reflexão".

O partido está no auge daquela que talvez seja a maior crise de sua história, com notável aumento de sua rejeição, o governo mal avaliado e dirigentes acusados de corrupção pela Operação Lava Jato, que investiga desvios de dinheiro e pagamento de propinas na Petrobras.

Afetado pela forte crise de imagem, o PT vê até ameaçada a eleição em cidades do Nordeste em 2016, região que garantiu a reeleição de Dilma em 2014.

A presidente embarcou para o Brasil pouco depois das 13h (8h pelo horário de Brasília), conforme foi decidido nesta quarta (10). O avião presidencial deve fazer uma parada de abastecimento na Espanha e seguir depois para Salvador, a tempo de Dilma participar da abertura do congresso, o 5º do seu partido.

Até terça-feira (9), havia um suspense sobre a presença dela ou não no evento desta noite. "Eu não pedi para esperarem eu chegar, mas eu chegarei", brincou com os repórteres.

PRESSÃO

Dilma decidiu ir ao evento após a cúpula petista ter se irritado com o cancelamento de sua ida à abertura do congresso. A possível ausência de Dilma na abertura do evento do PT havia irritado dirigentes do partido.

Auxiliares insistiam que Dilma fosse apenas no encerramento do congresso, no sábado (13). O comando do PT, porém, pedia que ela fosse na sexta-feira (12), quando ainda há discussões em curso.

Após as conversas, o Palácio do Planalto avaliou que o sábado seria um dia de pouco movimento e que a ausência de Dilma poderia causar ainda mais desgaste em sua relação com o partido, já bastante tensa.

Nos últimos dias, o comando do PT e o ex-presidente Lula agiram para acalmar os ânimos de setores da legenda, que preparavam críticas diretas à política econômica e à atuação da presidente para serem feitas durante o congresso.

O PT espera que, no congresso, Dilma "testemunhe" e "chancele" bandeiras que podem reaproximar o partido e o governo de suas bases históricas.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deve ser alvo dos petistas durante o evento. Correntes internas do partido como Novo Rumo, Mensagem ao Partido, DS e Trabalho preparam documentos bastante críticos ao governo.

A CUT (Central Única dos Trabalhadores) também levará ao evento críticas ao ministro e ao governo Dilma, a quem acusa de ter promovido uma "guinada na política econômica, com ataques a direitos dos trabalhadores".

Petistas pedem à presidente acenos à esquerda em contrapartida ao ajuste fiscal, como benefícios aos trabalhadores, retomada do crescimento econômico, fim do fator previdenciário, imposto sobre fortunas, entre outros temas caros ao governo.

Porém, diante do risco de ter o debate político esvaziado no evento, dirigentes do partido vão propor a realização de um novo congresso em novembro para reestruturar a legenda. Entre as propostas estão a escolha de uma nova direção, o fim da eleição direta interna e a extinção do posto de tesoureiro da sigla -as finanças ficariam a cargo de uma gestão coletiva.

Editoria de Arte/Folhapress

Colaborou MARINA DIAS, enviada especial a Salvador


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