Folha de S. Paulo


Petistas querem novo congresso em novembro e fim do cargo de tesoureiro

Diante do risco de ter o debate político esvaziado no 5º Congresso do PT, que começa nesta quinta-feira (11) em Salvador, dirigentes do partido vão propor a realização de um novo encontro em novembro para reestruturar a legenda.

Entre as propostas estão a escolha de uma nova direção, o fim da eleição direta interna e a extinção do posto de tesoureiro da sigla –as finanças ficariam a cargo de uma gestão coletiva.

Desde 2006, a Secretaria de Finanças do PT viu dois de seus tesoureiros serem presos após denúncias de corrupção –Delúbio Soares, condenado no mensalão, e João Vaccari Neto, alvo da Operação Lava Jato, que investiga esquema de desvio de dinheiro na Petrobras.

A proposta de um "congresso constituinte" em cinco meses será apresentada por diversas lideranças do PT, encabeçadas pela Mensagem ao Partido, segunda maior tendência petista.

Para os simpáticos à proposta, que inclui parte do Movimento PT e de outras tendências mais à esquerda, o novo congresso servirá para que a legenda discuta "um plano atualizado para o Brasil" e escolha "uma direção com mais musculatura política" para coordenar a mudança que, segundo eles, o PT precisa passar.

Nos bastidores, o ex-presidente Lula tem reclamado já há algum tempo sobre a direção do PT, principalmente nos Estados. Para ele, os quadros não são qualificados para fazer o debate político diante da maior crise já enfrentada pela legenda.

"Precisamos revisitar o modelo organizativo do PT, a relação do partido com a militância e com o governo", afirmou à Folha o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), um dos dirigentes da Mensagem. "É como se já tivéssemos cumprido o programa que propusemos e, agora, precisamos começar um novo ciclo", completou.

Segundo a Folha apurou, no entanto, a cúpula do PT não acredita que será possível realizar um novo congresso ainda este ano e avalia que a proposta não terá adesão da maioria do partido.

CONGRESSO

Desde esta quinta até sábado (13), 800 delegados petistas se reúnem em Salvador para discutir os novos rumos do partido –oito teses estão inscritas para o debate.

Da abertura, na noite desta quinta, participam a presidente Dilma Rousseff, que mudou a agenda em Bruxelas para chegar a tempo ao evento, e o ex-presidente Lula, que agiu pessoalmente nos últimos dias para amenizar as duras críticas que setores do PT preparavam para fazer a Dilma e à política econômica de seu governo.

A presidente embarcou na manhã desta quinta, em Bruxelas, em um voo para Salvador a tempo de acompanhar a abertura do congresso. Ela foi sucinta ao comentar o evento.

"Eu acho que o congresso vai ser importante para o PT, um momento de reflexão", afirmou em entrevista coletiva aos jornalistas, após participar da cúpula entre a União Europeia e a Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribe).

Questionada pela Folha por que é hora de refletir, ela limitou-se a responder: "Porque é um momento de reflexão".

O partido está no auge daquela que talvez seja a maior crise de sua história, com notável aumento de sua rejeição, o governo mal avaliado e dirigentes acusados de corrupção pela Operação Lava Jato, que investiga desvios de dinheiro e pagamento de propinas na Petrobras.

Afetado pela forte crise de imagem, o PT vê até ameaçada a eleição em cidades do Nordeste em 2016, região que garantiu a reeleição de Dilma em 2014.

Apesar de ter conseguido em alguns casos, grupos mais à esquerda e uma dissidência da ala majoritária ainda mantiveram muitas críticas nos documentos que serão apresentados no congresso.

Editoria de Arte/Folhapress

Colaborou LEANDRO COLON, enviado especial a Bruxelas


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