Folha de S. Paulo


Ministros querem que Dilma faça concessões à base petista

Pedro Ladeira - 18.mai.2015/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff em evento com o ministro Joaquim Levy no Planalto em maio
A presidente Dilma Rousseff em evento com o ministro Joaquim Levy no Planalto em maio

No auge do distanciamento de Dilma Rousseff com o PT, ministros recomendaram à presidente fazer acenos à base social do partido e voltaram a defender, nos bastidores, a taxação de grandes fortunas. O tema é uma das principais bandeiras do PT e deve ser discutido durante o congresso da sigla, que começa nesta quinta-feira (11).

Dilma ainda não tem posição fechada sobre a proposta, que enfrenta resistências do ministro Joaquim Levy (Fazenda), que prefere a tributação de heranças. Para ele, a taxação de fortunas adotada em outros países recentemente não funcionou –além de não gerar receita significativa, afugentou milionários, que migraram para outros locais.

Ministros petistas ouvidos reservadamente pela Folha insistem, porém, que a presidente precisa reforçar o recado de que o ajuste não vai "onerar só o trabalhador", apesar de o governo já ter elevado a tributação dos bancos.

Em conversa com petistas em março, o ex-presidente Lula pediu o aprofundamento das relações do PT com movimentos sociais. Dirigentes criticam, nos bastidores, a política econômica do segundo governo Dilma e pressionam por medidas em benefício dos trabalhadores, na contramão do ajuste fiscal.

Editoria de Arte/Folhapress

Levy deve ser alvo de petistas durante o congresso do PT em Salvador. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) levará ao evento críticas ao ministro e ao governo Dilma, a quem acusa de ter promovido uma "guinada na política econômica, com ataques a direitos dos trabalhadores".

Nesta segunda-feira, a presidente defendeu o ministro da Fazenda. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", ela disse que Levy não pode ser tratado "como Judas".

"Eu acho injustas [as críticas a Levy] porque não é responsabilidade exclusiva dele. Não se pode fazer isso, criar um judas", afirmou.

O vice-presidente Michel Temer também saiu em defesa do ministro nesta segunda, dizendo que ele deveria ser tratado "como Cristo".

"O ajuste fiscal que o Levy está levando adiante vai representar exatamente isso: num primeiro momento, parece uma coisa difícil, complicada, mas que vai dar os melhores resultados. Muito menos Judas e muito mais Cristo", disse Temer.

Em entrevista ao jornal belga "Le Soir", publicada nesta segunda (8), Dilma defendeu o freio de arrumação que seu governo está promovendo nas contas públicas e rechaçou a teoria de que sua equipe econômica está usando uma cartilha conservadora.

"Tivemos que fazer esse ajuste, que não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro", afirmou.

A presidente disse ainda que o ajuste fiscal "não é uma escolha". "O ajuste é essencial. Não é algo que você pode ou não fazer: não há alternativa senão fazê-lo. E para isso é preciso coragem".

Nos últimos dias, às vésperas do encontro petista, a própria cúpula do PT passou a ficar preocupada com o clima de confronto de alas do partido com o governo e desencadeou uma operação para tentar acalmar os ânimos.

O receio de líderes petistas, partilhado pelo ex-presidente Lula, é que o Congresso do PT aprofunde o distanciamento da presidente com o partido, o que seria prejudicial para os dois lados.

Para reforçar a imagem do PT, deteriorada pelos últimos escândalos como mensalão e petrolão, a cúpula do partido vai defender que, durante o Congresso, sejam lançadas agendas próprias da sigla, como a recriação da CPMF.

A medida não conta com o apoio oficial do governo porque representa mais impostos. Nos bastidores, porém, o Planalto tem simpatia pela proposta.

APROXIMAÇÃO COM PT

De olho em uma reaproximação com a sigla, assessores da presidente disseram em maio que ela iria ao 5º congresso da sigla, que acontecerá em Salvador. Mas sua presença ainda não está confirmada oficialmente.

A relação entre a presidente e o PT sempre foi tensa, mas se deteriorou nos últimos meses. No início do segundo mandato, ela demitiu o núcleo ligado a Lula no Planalto, alijando representantes da corrente majoritária da sigla, a CNB (Construindo um Novo Brasil), das principais decisões do governo.

Além disso, nomeou Levy e Kátia Abreu (Agricultura), ministros criticados pela militância petista.


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