Autoridades civis e militares fizeram um desagravo na manhã deste sábado (6) durante o velório do general da reserva Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército durante o governo de José Sarney (1985-90), que morreu na quinta-feira (4), no Rio, aos 94 anos.
Sarney fez vários elogios ao militar, ressaltando sua importância na transição da ditadura militar para o governo civil.
Na última homenagem, o filho do general, Miguel Pires Gonçalves, fez um desagravo ao pai, que foi citado no relatório da Comissão Nacional da Verdade, de dezembro de 2014.
"Como cidadão, eu e nossa família lastimamos certas imposturas políticas e ideológicas que tentam transformar fatos inverídicos em verdades históricas caluniando pessoas e mistificando episódios", disse o filho do general, sem citar diretamente a comissão.
O general foi citado no relatório como um dos 377 agentes do Estado que atuaram na repressão política e foram responsáveis, direta ou indiretamente, pela prática de tortura e assassinatos durante a ditadura militar.
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, também fez um desagravo em sua homenagem: "Os soldados do seu exército não consentirão que a retidão do seu caráter e a transcendência de sua alma sejam maculadas por versões históricas capciosas e tentativas de impor verdades de ocasião", disse o general.
O chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, José Carlos de Nardi, disse que o general "manteve a dignidade" das Forças Armadas e, por isso, é considerado um dos generais mais importantes do Exército.
Perguntado sobre sua citação pela Comissão Nacional da Verdade, Nardi preferiu não comentar. "Vamos falar outro dia? Hoje é um dia de grande tristeza", disse Nardi, que representou o ministro da Defesa, Jaques Wagner, no velório do general.
Após o velório, o Exército começou por volta das 11h um cortejo fúnebre pela Avenida Marechal Floriano, no Centro, até o Cemitério do Caju. O corpo de Gonçalves será cremado em cerimônia restrita à família às 13h.
Leônidas deixa esposa, dois filhos, quatro netos e sete bisnetos.
TRANSIÇÃO
O ex-presidente José Sarney disse que o general Leônidas Pires Gonçalves foi o último dos grandes chefes militares e generais brasileiros que participaram como protagonistas da história brasileira nos últimos 50 anos.
Segundo Sarney, o general articulou com a Marinha e a Aeronáutica um grupo de sustentação que pudesse assegurar a transição democrática "sem nenhum trauma".
"Antes da posse de Tancredo Neves, foi ele com o conhecimento da situação do Brasil que advertiu o presidente e todos nós de que precisávamos estar preparados para que não houvesse nenhuma surpresa no processo de transição, que ele sabia que era difícil", disse Sarney.
O ex-presidente contou ainda que, após a morte de Tancredo, o próprio Sarney resistia a tomar posse. "Foi dele que ouvi que não podíamos criar mais problemas quando já tínhamos tantos problemas. E terminou sua argumentação com a palavra 'Boa noite, presidente'", lembrou Sarney.
O ex-presidente disse que se deve ao general o ingresso de mulheres às Forças Armadas, implementação do sistema de guerra eletrônica, aviação de helicópteros com armas de artilharia. "Ele modernizou por assim dizer as Forças Armadas", disse Sarney.