Folha de S. Paulo


Documentos ligam ex-diretor a propina de US$ 2 milhões

Documentos enviados pelas autoridades de Mônaco aos procuradores da Operação Lava Jato indicam que US$ 2 milhões (equivalentes a R$ 6,3 milhões) depositados numa conta do ex-diretor da Petrobras Renato Duque no exterior tiveram como origem pagamentos feito pelo estaleiro coreano Samsung, acusado de pagamento de suborno.

Os papéis mostram que em abril de 2011 a Samsung transferiu US$ 3 milhões para o consultor da área de petróleo Raul Schmidt Felippe Jr., que ajudou Duque a abrir uma conta no banco Julius Baer, em Mônaco. No mesmo mês, Schimdt fez repasse de US$ 4 milhões para o empresário francês Judas Azuelos.

Dois meses depois, Azuelos devolveu US$ 2 milhões para Schmidt e transferiu US$ 2 milhões para uma empresa que é controlada por Duque, segundo as autoridades de Mônaco, a Milzart Overseas.

Os documentos indicam que os repasses foram associados a um contrato da Petrobras com a empresa americana Pride Internacional, de quem alugou um navio-sonda construído pela Samsung.

Editoria de Arte/Folhapress

O contrato, no valor de US$ 864 milhões (R$ 2,7 bilhões) foi assinado em 2008. Auditoria interna concluída pela Petrobras neste ano apontou sobrepreço de R$ 118 milhões no contrato e pôs em dúvida os estudos que justificaram a contratação da nova sonda.

'PROBLEMA'

O executivo Júlio Camargo, que trabalhou para a empresa Toyo Setal e hoje colabora com as investigações da Lava Jato, apontou esse contrato como um dos que envolveram o pagamento de propina a Duque, que é ligado ao PT e está preso em Curitiba.

Em depoimento à Justiça neste ano, Camargo disse que participou de três reuniões na Petrobras como um representante da Samsung para acertar o negócio do navio-sonda, todas com a participação do ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró, que também está preso no Paraná.

Segundo o relato de Camargo, quando parecia tudo resolvido, a secretária de Cerveró avisou-o que Duque queria falar com ele. "Julio, estamos com um problema", disse Duque, segundo Camargo.

De acordo com o executivo, Duque disse-lhe que a empresa que comprara a sonda para alugar à Petrobras, a Pride, tinha um contrato de exclusividade com o lobista Hamylton Padilha, e o negócio iria prosseguir sem Camargo.

Duque, afimrou o executivo, marcou então nova reunião com a Samsung e avisou que Padilha seria o intermediário no lugar de Camargo.

Schmidt, 56, fez carreira na área internacional da Petrobras antes de ir para a iniciativa privada. Desde 2007, quando deixou a presidência da subsidiária brasileira da Sevan Marine, empresa norueguesa que constrói plataformas de petróleo, passou a intermediar negócios com a Petrobras. Ele vive entre Paris, Genebra e Londres.

OUTRO LADO

O advogado Alexandre Lopes, que defende o ex-diretor da Petrobras Renato Duque nos processos da Operação Lava Jato, disse que ele não cometeu irregularidades nem recebeu propina no período em que foi diretor de Serviços da estatal, entre 2003 e 2012.

Lopes evitou discutir as contas associadas a Duque no exterior, questionando a legalidade dos procedimentos adotados pelos procuradores da Lava Jato para obter os documentos fornecidos pelas autoridades de Mônaco.

Os documentos foram enviados primeiro por e-mail, diretamente para o Ministério Público Federal em Curitiba, e não para a autoridade em Brasília que deveria receber esse tipo de documentação, o DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional).

O advogado de Duque foi à Justiça para questionar esse procedimento e quer que os documentos obtidos dessa maneira sejam desconsiderados na investigação, o que a Justiça ainda não decidiu. Os procuradores negam irregularidades na obtenção dos documentos de Mônaco.

A Folha telefonou duas vezes para o escritório da Samsung no Rio. Uma funcionária informou que não havia ninguém autorizado a comentar o assunto. A Pride não quis se manifestar sobre as suspeitas. A Folha não localizou Raul Schmidt Felippe Júnior e Judas Azuelos, por telefone, em Genebra e Paris.


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