Folha de S. Paulo


Lava Jato prende operador que fez pagamentos a firma de José Dirceu

Em mais uma fase da Operação Lava Jato, a Polícia Federal prendeu na manhã desta quinta-feira (21) Milton Pascowitch, apontado como operador da empreiteira Engevix em contratos da Petrobras e suspeito de repassar propina na diretoria de Serviços, que Renato Duque ocupou entre 2003 e 2012 na estatal.

Pascowitch foi preso em São Paulo por reiteração criminosa e para a garantia da ordem pública, segundo o procurador Carlos Fernando Lima. As movimentações financeiras do operador, oriundas de propina, sustenta ele, continuavam em andamento mesmo após a deflagração da Lava Jato.

O irmão dele, José Adolfo, também apontado como operador no esquema, foi levado em condução coercitiva, ordem judicial para prestar depoimento às autoridades. A Justiça também determinou o bloqueio de R$ 78 milhões em contas dos dois irmãos.

Ligações de outras empreiteiras com Pascowitch também serão investigadas. Segundo o Ministério Público, existem indicativos de depósitos de outras empresas, como a UTC, para o operador.

Jorge Araujo - 4.fev.2015/Folhapress
Milton Pascowitch deixa o prédio da Policia Federal em São Paulo após prestar depoimento, em fevereiro
Milton Pascowitch deixa o prédio da Policia Federal em São Paulo após depoimento, em fevereiro

O objetivo desta 13ª fase da operação é investigar crimes dos dois operadores financeiros do esquema de corrupção na estatal. Ainda não há estimativas de quanto eles movimentaram.

A força-tarefa da Lava Jato apura as ligações dos operadores com Duque e com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. A Jamp Engenheiros Associados, empresa de Pascowitch, a fez pagamentos de R$ 1,45 milhão à JD Consultoria, firma de Dirceu, em 2011 e 2012.

Pascowitch é apontado como um dos onze operadores da propina na diretoria de Serviços, comandada por Duque (indicado pelo PT), e com bom trânsito no Partido dos Trabalhadores.

"Isso ainda não está claro, mas é uma linha investigativa", disse o procurador sobre a relação com petistas. "Não sabemos quem são as pessoas com quem ele conversava no partido, mas vamos investigar."

A Engevix é suspeita de integrar o cartel na estatal e também fez pagamentos à firma de Dirceu, no valor de R$ 1,1 milhão. Tanto a empreiteira quanto Dirceu negam que os pagamentos sejam propina disfarçada. O executivo Gerson Almada –ex-vice-presidente da empresa, preso em novembro e liberado no mês passado–, afirmou que Dirceu prestou serviços prospectando negócios no exterior.

"O que eles chamam de lobby, nós chamamos de corrupção", afirma o procurador. "Quando você tem alguém que é contratado por cinco concorrentes ao mesmo tempo, para fazer um serviço igual nos mesmos mercados, você começa a duvidar que seja uma prestação séria."

A investigação sobre o ex-ministro, porém, ainda necessita ser aprofundada, segundo o procurador.

HOYER

Foram cumpridos ainda mandados de busca e apreensão nas casas dos irmãos, além de um no Rio de Janeiro e outro em Minas Gerais, em imóveis do empresário Henry Hoyer de Carvalho, que foi mencionado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa durante as investigações.

Segundo Costa, Hoyer substituiu o doleiro Alberto Youssef como interlocutor entre a diretoria de Abastecimento e integrantes do PP no início de 2012, pois os líderes do partido estavam insatisfeitos com atrasos nos repasses de propinas.

Hoyer também é investigado pela CPI do SwissLeaks do Senado, criada para apurar supostas irregularidades praticadas pelo banco HSBC na abertura de contas ilegais na Suíça.

Não havia mandado de prisão contra ele, mas três armas e munição de calibre restrito foram encontradas em sua casa e caracterizaram prisão em flagrante por porte ilegal. Ele pode sair mediante ordem judicial.

O empresário ainda terá suas operações com o PP esmiuçadas. Segundo as investigações, ele assumiu parte das transações financeiras do partido oriundas de corrupção após a morte do ex-deputado José Janene, em 2010.

Ex e atuais deputados do partido podem ser identificados como beneficiários do esquema a partir dele, diz o procurador Lima.

A atuação de Hoyer como operador do PP em outros órgãos do governo também será investigada. "Não se descarta que a gente verifique ligação do partido com outros órgãos", disse Lima.

NOVO FLANCO

A atuação de Pascowitch também abre uma linha de investigação na diretoria de Exploração e Produção da Petrobras –que já foi apontada pelo delator Costa como o local dos "grandes desvios" na estatal.

Segundo o delegado Igor Romário de Paula, já é sabido que o operador atuou como representante da Engevix em um estaleiro ligado à diretoria. Há dados sobre sua atuação e movimentação financeira que levam a suspeitas sobre o pagamento de propina também nessa obra.

"A fórmula pode se repetir; o modelo é o mesmo. E aí não acaba nunca mais", diz o delegado.

OBRAS DE ARTE

Com Milton e seu irmão, José Adolfo Pascowitch, apontado como sócio nas operações de pagamento de propina, também foram apreendidos 60 telas de arte e duas esculturas –pagas com dinheiro de corrupção, segundo as investigações.

A PF suspeita que Pascowitch tenha repassado propina da Engevix para Duque até mesmo na forma de obras de arte. Em 16 de março, dia da prisão de Duque, a PF encontrou na casa do ex-diretor da Petrobras uma escultura do artista Franz Krajcberg comprada em 2012 por Pascowitch pela preço de R$ 212,5 mil, junto com outras 130 obras.

Em depoimento à Justiça Federal no dia 17 de março, Almada afirmou que Pascowitch atuava como lobista da empreiteira. Segundo o executivo, Pascowitch e o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, pediram que a empreiteira fizesse doações eleitorais ao partido. A construtora realizou as contribuições, disse.

"Como ele [Milton Pascowitch] tinha um relacionamento com o PT, na Diretoria de [Engenharia e] Serviços [da Petrobras], também ele trazia pedidos não vinculados a obras, mas vinculados a doações para o partido nas épocas de eleições ou em dificuldades de caixa do partido", relatou no testemunho ao juiz Sergio Moro.

Ainda de acordo com Almada, entre 0,5% e 1% dos contratos celebrados entre a Engevix e a Petrobras intermediados por Pascowitch, eram repassados ao lobista –o executivo, no entanto, disse não saber qual era a destinação final dos valores. Ele afirmou que Pascowitch teria posto como condição o pagamento a ele para que a Engevix "ficasse bem com o partido político", referindo-se ao PT.

OUTRO LADO

A defesa do empresário Milton Pascowitch e do irmão dele José Adolfo nega que eles tenham cometido crimes em seus negócios relativos a contratos da Petrobras.

A assessoria do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu afirmou que os pagamentos feitos por Pascowitch à empresa de consultoria de Dirceu corresponderam a serviços efetivamente prestados.

O advogado de Milton Pascowitch, Theodomiro Dias Neto, disse que as contas do empresário no exterior estão declaradas à Receita Federal e não foram usadas para fazer o repasse de propinas.

Segundo Dias Neto, Pascowitch sempre esteve à disposição da Justiça para colaborar com as investigações e a prisão dele é desnecessária.

Em nota, a assessoria do ex-ministro José Dirceu afirmou que a empresa de consultoria dele assinou um contrato com a firma de Pascowitch para prospecção de negócios para a empreiteira Engevix no exterior, principalmente no Peru.

Segundo a assessoria, "durante a vigência do contrato, o ex-ministro José Dirceu chegou a viajar a Lima para tratar de interesses da Engevix".

Os negócios entre as empresa de Dirceu e Pascowitch não tiveram qualquer ligação com contratos da Petrobras, de acordo com os assessores do ex-ministro.

A Folha não conseguiu localizar a defesa do empresário Henry Hoyer de Carvalho.

Editoria de Arte/Folhapress

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