Folha de S. Paulo


PSDB recua e diz que impeachment da presidente Dilma não é para agora

O PSDB desistiu de bancar, neste momento, um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Após receber parecer sobre sua viabilidade jurídica, o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), admitiu nesta quarta-feira (20) que outras medidas devem ser adotadas antes que o partido apresente um pedido de afastamento de Dilma.

Nesta quinta (21), Aécio apresentará aos demais partidos de oposição um relatório do jurista Miguel Reale Júnior. O parecer não traz elementos que sustentem um pedido de impeachment agora.

Na avaliação do PSDB, é melhor esperar o avanço da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, e buscar outros elementos que sustentem um processo contra Dilma.

Em vez de impeachment, Aécio vai sugerir que a oposição entre com uma ação penal contra a presidente por causa das manobras fiscais usadas para fechar as contas do governo no seu primeiro mandato, que viraram alvo de questionamentos no TCU (Tribunal de Contas da União).

"Não daremos folga", afirmou Aécio, que foi derrotado por Dilma nas eleições do ano passado. "A população está querendo partir para cima do PT. Somos apenas instrumento", acrescentou. Embora afirme que existem indícios fortes contra a petista, este "não é o momento para o movimento de impeachment".

Editoria de Arte/Folhapress

A mudança de tom no discurso de Aécio é significativa. Em abril, o tucano disse que já via "motivo extremamente forte" para impeachment nas denúncias de corrupção na Petrobras. Dias depois, o líder da bancada tucana na Câmara, Carlos Sampaio (SP), afirmou que apresentaria um pedido de impeachment em uma semana.

Acabou prevalecendo no partido a tese de que é preferível desgastar a presidente do que propor uma ação de resultado incerto agora. Os tucanos reconhecem que não há adesão popular significativa à causa do impeachment, e que não há consenso sobre o tema nem mesmo no PSDB.

BENEFICIÁRIO

O senador José Serra (SP) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, não estão certos de que o PSDB será o beneficiário direto de um eventual afastamento da presidente.

Tucanos lembram que o PMDB, partido alinhado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiria o poder em qualquer circunstância, fosse com a posse do vice Michel Temer ou com a convocação de uma nova eleição, processo que seria conduzido pelos peemedebistas que hoje controlam o Congresso.

Parte da cúpula do PSDB, incluindo Fernando Henrique, acha que, apesar dos arranhões em sua imagem, Lula poderia voltar ao jogo eleitoral. Por isso, a estratégia preferida agora é explorar a atual vulnerabilidade do PT para atingir o líder do partido.

"Em 2016 [ano das eleições municipais], o PT estará nas cordas", afirmou Aécio. "Até 2018, Dilma não vai recuperar a economia. O crescimento médio [do PIB] será de 1%", disse o senador tucano.

Nesta quarta, durante reunião em Brasília, governadores de oposição se mostraram resistentes às propostas de impeachment, porque temem os reflexos de um agravamento da crise político na economia de seus Estados.

Antes de entrar na reunião, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que "o país enfrenta uma recessão maior do que se imagina". Segundo ele, a gravidade da crise é perceptível na economia de São Paulo.

Os tucanos acham que, com o PMDB à frente do Congresso, há mais chances de os Estados verem suas reivindicações atendidas. "Nunca tivemos um ambiente tão favorável", afirmou o governador Marconi Perillo (GO).


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