Folha de S. Paulo


Aliados pressionam Dilma a se declarar contra terceirização

Beto Barata - 24.abr.2015/Folhapress
Dilma Rousseff durante visita da Presidente da República da Coreia do Sul, Park Geun-hye
Dilma Rousseff durante visita da Presidente da República da Coreia do Sul, Park Geun-hye

Aliados da presidente Dilma Rousseff aumentaram nos últimos dias pressões para que ela se manifeste claramente contra o polêmico projeto que amplia a terceirização do trabalho no país, visto pelos sindicatos como uma ameaça aos trabalhadores.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende que a sucessora reveja a decisão de cancelar o tradicional pronunciamento de 1º de maio e vá ao rádio e à televisão nesta sexta-feira para anunciar sua disposição de vetar o projeto se o Congresso aprová-lo.

Há duas semanas, numa reunião com sindicalistas, Lula fez um apelo à presidente: "Dilma, se tem gente para te defender para sair dessa enrascada, é esse pessoal aqui", disse o ex-presidente.

Nesta segunda (27), Lula repetiu o pedido em outra reunião com sindicalistas: "Tranquilamente, a companheira Dilma vai vetar [o projeto da terceirização]", disse.

Na avaliação dos petistas, além de acenar para a base histórica do partido, um gesto da presidente seduziria eleitores cuja insatisfação contribuiu para engrossar os protestos realizados contra o governo em março e abril.

Lula confirmou presença no evento organizado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) para celebrar o Dia do Trabalho nesta sexta, em São Paulo. Lula não participa do evento desde 2010, último ano do seu mandato.

A CUT, junto com outras centrais e movimentos sociais, fará passeatas de três pontos do centro de São Paulo até o Vale do Anhangabaú, onde realizarão um ato conjunto. A Força Sindical, que é a favor da terceirização, comemorará o 1º de Maio na Praça Campo de Bagatelle.

Aprovado pela Câmara dos Deputados há uma semana, o projeto da terceirização permite que empresas terceirizem todas as suas atividades, o que pode ajudá-las a reduzir custos e se tornar mais eficientes.

A CUT e outras centrais sindicais são contra o projeto por causa dos riscos que ele cria para os trabalhadores, que temem o desemprego, a redução dos salários e a perda de direitos trabalhistas que as mudanças podem provocar.

O projeto agora está em discussão no Senado, que pode modificá-lo para restringir o alcance da terceirização. Se isso ocorrer, a proposta voltará para a Câmara dos Deputados.

CLAREZA

"Falta clareza do governo", disse o presidente da CUT, Vagner Freitas. "Ele tem se colocado contra, a presidenta disse ser contra, o que para nós é importante, mas ela tem de fazer um pronunciamento público, antes do 1º de maio."

Na segunda-feira, em entrevista em Xanxerê (SC), Dilma defendeu a regulamentação da terceirização e impôs como condições para seu apoio a preservação de direitos trabalhistas e das receitas obtidas pelo governo com impostos.

A presidente indicou ser contra a extensão da terceirização a todas as atividades das empresas e sugeriu que se busque um "equilíbrio" no Congresso. A legislação em vigor só permite a terceirização nas chamadas atividades-meio das empresas, sem defini-las com precisão.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cobrou de Dilma nesta quarta (29) uma posição menos ambígua. "O que se quer é que a presidente diga claramente o que pensa do projeto, da precarização, do direito do trabalhador. Isso que ela precisa falar", afirmou.

Em vez do tradicional pronunciamento em cadeia nacional, a presidente divulgará neste 1º de maio um ou três vídeos com mensagens nas redes sociais, disse o ministro Edinho Silva, chefe da Secretaria de Comunicação Social do Planalto. Os vídeos serão gravados nesta quinta (30).

Dilma cancelou o pronunciamento por temer virar alvo de panelaços como os que ocorreram em várias capitais em março, na última vez em que a presidente ocupou cadeia nacional de rádio e TV, no Dia da Mulher.

Editoria de arte/Folhapress

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