Folha de S. Paulo


Marta muda imagem para atrair voto anti-PT

No esforço de disputar pela quarta vez a Prefeitura de São Paulo, a senadora Marta Suplicy pediu formalmente nesta terça-feira (28) sua desfiliação do PT, marco inicial de uma tentativa de reinvenção de sua imagem pública.

Com a adoção de discurso crítico à sigla na qual militou por 33 anos, ela deverá anunciar até junho sua entrada no PSB, aliado do PSDB no governo estadual, e assim ingressar de vez na oposição à presidente Dilma Rousseff (PT).

O objetivo da senadora é, em uma frente, buscar inserção na classe média antipetista, na qual acumula rejeição. Em outro flanco, conquistar eleitores insatisfeitos com a gestão de Fernando Haddad (PT) em bairros da periferia.

Nesse sentido, a senadora, que deverá sair da sigla em voo solo, pretende nas próximas semanas combinar uma agenda pública de visitas a redutos tradicionais petistas com um discurso mais dirigido à classe média, com críticas severas ao partido e ênfase ao tema da corrupção.

No pedido formal de desfiliação entregue nesta terça-feira (28) ao comando petista, a senadora fez questão de intensificar o novo tom crítico que já vinha adotando em artigos e entrevistas recentes.

Considerada a principal motivação dos participantes das manifestações de rua contra a presidente Dilma Rousseff (PT), segundo pesquisa Datafolha, a corrupção foi apontada pela senadora no documento como uma das causas de sua saída do PT.

Segundo ela, o partido tem sido o protagonista "de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou".

"Os princípios e o programa partidário do PT nunca foram tão renegados pela própria agremiação de forma reiterada e persistente", criticou Marta, segundo a qual o PT se desviou do "caminho certo" e se contaminou com o poder.

A senadora também acusou o comando do partido de isolá-la e estigmatizá-la. Em Brasília, disse que decidiu deixar o PT porque se sentiu "traída" por uma sigla que rompeu "com princípios éticos".

RUSSOMANNO

Além da necessidade de se distanciar do PT, que passa por uma crise de imagem, a senadora deverá também lidar com a rejeição entre os eleitores ao seu próprio nome.

As pesquisas internas tanto do PT como do PSDB apontam que que o índice de rejeição à senadora para a disputa municipal é alto e próximo ao de Haddad.

Segundo pesquisa Datafolha, realizada em fevereiro, 44% avaliam a gestão do atual prefeito como ruim ou péssima.

Além disso, o PSB dispõe de uma estrutura de campanha eleitoral menor que a do PT, assim como menos tempo de rádio e televisão.

A candidatura da senadora causa preocupação aos petistas, mas não é considerada por Haddad o principal perigo para sua reeleição em 2016.

A avaliação dele, compartilhada a aliados, é de que o lançamento do deputado federal Celso Russomanno (PRB) representaria obstáculo maior.

Em conversas reservadas, Haddad considera que a eventual candidatura de Russomanno está sendo subestimada e que o cenário de hostilidade aos partidos políticos estimula um nome "fora dos padrões convencionais".

Para ele, Russomanno está mais experiente e não repetirá erros da eleição passada.

O PT calcula ainda que Marta pode "ficar encurralada" caso Russomanno herde votos de simpatizantes da sigla na periferia que não aprovam sua saída do partido.

Colaborou GABRIELA GUERREIRO, de Brasília

Editoria de Arte/Folhapress

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