Folha de S. Paulo


Marta diz estar 'aliviada' por deixar partido que traiu 'princípios éticos'

Depois de formalizar nesta terça-feira (28) sua saída do PT após mais de 30 anos no partido, a senadora Marta Suplicy (SP) disse que tomou uma decisão "muito dura", mas fez o necessário porque se sentiu "traída" por uma sigla que rompeu "com todos os princípios éticos" para os quais foi criada.

Ao afirmar estar "aliviada" com sua decisão, Marta disse que não tinha mais "ambiente" para estar no PT. A senadora disse que estava em "luto" há muito tempo, mas ficará "menos agoniada" fora do partido do que dentro dos seus quadros.

"Eu tinha princípios éticos, o partido rompeu todos os princípios pelos quais foi criado. Não tenho mais ambiente, vontade de estar em um partido que me senti de certa forma, como milhares de petistas ou de pessoas que votaram no PT, traída."

A senadora nega que sua saída do PT tenha como objetivo disputar a prefeitura de São Paulo em 2016, já que Fernando Haddadd (PT) deve disputar a reeleição. Mas não desmente sua disposição de concorrer ao cargo, o que seria praticamente impossível dentro do PT.

Marta fala sobre desfiliação do PT

"Eu tenho uma avenida para pensar o que vou fazer. Sou paulista, paulistana, muito crítica à prefeitura que está tendo São Paulo hoje. Mas é uma possibilidade muito forte."

Sem poupar críticas ao PT, Marta disse que "deu o sangue" no partido ao qual ajudou a criar, mas optou pela desfiliação após um processo de reflexão que não tem ligação direta com a presidente Dilma Rousseff –da qual foi ministra da Cultura. A senadora também foi ministra do Turismo no governo do ex-presidente Lula.

"Não tem nenhum [peso da presidente Dilma na decisão]. É uma coisa referente a um partido que ajudei a fundar, dei o sangue, trabalhei muito, acreditando nos princípios do partido, na justiça social, na cidadania, tudo isso. O PT rompeu esses princípios."

Marta disse que teve uma conversa "dura" e "pesada" com Lula no ano passado, quando anunciou que deixaria o PT. De lá para cá, a senadora disse que não se encontrou mais com o ex-presidente, nem voltou a conversar sobre sua saída. "Eu disse que ia procurar o meu caminho. Depois, eu não falei mais."

Sobre sua postura no Senado daqui para frente, Marta disse que vai continuar acompanhando o PT em votações que considerar importantes, mas vai agir de forma "independente". "Vou votar muita coisa junto e outras coisas que eu pensava que não podia votar, mas agora vou ter uma independência."

MANDATO

Apesar de o PT ter recebido com críticas sua desfiliação, Marta disse estar "tranquila" de que não perderá o mandato, caso o partido reivindique sua cadeira no Senado. Segundo a senadora, um parecer do procurador-geral da República deixa claro que a perda do mandato não se aplica a cargos majoritários, como dos senadores.

"O mandato majoritário é do senador, é do mandatário. Ele usa a estrutura partidária, mas o voto que é dado é na pessoa", afirmou. "Eu fui votada por mais de 8 milhões de pessoas e eu devo esse mandato às 8 milhões de pessoas que colocaram a sua confiança em mim e eu vou honrar esse voto que me deram de confiança, porque votaram em mim pelo que eu sou", completou.

Sobre sua nova filiação após deixar o PT, Marta confirmou que está em conversas "avançadas" com o PSB, mas também negocia seu ingresso com outros partidos, como o PDT. Não há definição sobre o seu destino político, segundo a senadora.

"Eu estou conversando com todos os partidos que me procuraram, mas tem uma frente parlamentar que está mais avançada. E dessa frente faz parte o PSB, PPS, PV e o SDD. E estou conversando de forma avançada com o PSB."

A decisão, segundo ela, será tomada "muito antes de outubro", prazo máximo para a filiação caso venha a disputar a prefeitura de São Paulo.


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