Folha de S. Paulo


PT vai reivindicar mandato de Marta, que deixa o partido, no Senado

O presidente do PT de São Paulo, Emídio de Souza, avisou ao comando nacional do partido que reivindicará na Justiça Eleitoral o mandato da senadora Marta Suplicy, que formalizou nesta terça-feira (28) sua saída da sigla.

Na carta em que pede a desfiliação do partido, ela disse que não poderia compactuar com corrupção. O teor de seu pedido de desligamento irritou a cúpula partidária, até então dividida sobre a hipótese de ir à Justiça.

Contra a medida, petistas argumentavam que a ação vitimizaria a senadora. Além disso, não há precedente nesse sentido, já que o mandato de senador é classificado como majoritário, ao contrário do que acontece na Câmara.

Em seu lugar assumiria o suplente Paulo Frateschi (PT-SP), ex-secretário do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Em nota oficial, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que o partido recebe com "indignação" a carta da senadora. Segundo ele, a saída dela deve-se, na verdade, "à ambição eleitoral" e a um "personalismo desmedido".

"Lamentavelmente, a senadora retribui, com falta de ética e acusações infundadas, a confiança que o PT lhe conferiu ao longo dos anos. Ao renegar a própria história e desonrar o mandato, ela desrespeita a militância que sempre a apoiou e destila ódio por não ter sido indicada candidata à prefeitura de São Paulo em 2012", criticou.

Segundo a direção do partido, o PT nunca cerceou as atividades partidárias ou parlamentares de Marta.

"É triste ver que a senadora jogue fora a coerência cultivada como militante do PT e passe a se alinhar, de forma oportunista, com aqueles que sempre combateu e que sempre a atacaram", ressaltou.

No carta em que justifica sua saída do partido, a senadora ressalta que os princípios e o programa partidário do PT "nunca foram tão renegados pela própria agremiação, de forma reiterada e persistente".

As críticas (leia a carta abaixo) fizeram com que dirigentes antes resistentes se rendessem à alegação de que o mandato da senadora pertence ao partido. A assessoria jurídica do PT busca argumentos para desqualificar a tese de que a permanência de Marta no partido seria inviável.

O secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza, afirmou que a carta é uma prova de oportunismo da senadora, que se se diz vítima de perseguição após ter questionado as denúncias de corrupção contra o partido.

Para ele, Marta jamais se manifestou internamente durante reuniões partidárias. Ele lembrou ainda que ela sempre ocupou espaço de relevância no PT e no governo. "A relação só desandou quando ela saiu do Ministério", disse.

"Simplesmente falar isso depois de tanto tempo é puro oportunismo. Vida que segue", afirmou.

Marta fala sobre desfiliação do PT

CRÍTICAS

Marta vem fazendo diversas críticas públicas ao PT e ao governo federal. No dia 15 de abril, em sua conta no Facebook, afirmou que o Estado brasileiro "vem se portando como agiota" no caso da renegociação da dívida de Estados e municípios com a União.

O governo federal quer jogar a mudança no indicador, que reduzirá o valor das dívidas, para 2016. "Tudo indica que teremos retração econômica, desemprego, demanda enorme de serviços públicos. O mínimo que podemos fazer pelas cidades e estados é garantir que o alívio da dívida aconteça este ano", escreveu.

Em março, um artigo da senadora em sua coluna na Folha irritou petistas ao se referir ao ao escândalo da Petrobras como "roubalheira" e dizer que a presidente está reunindo as duas condições que levam "a vaca para o atoleiro": "negação da realidade e trabalhar com a estratégia errada".

No artigo, a petista diz que tentar creditar a crise da Petrobras a FHC é "diversionismo". Ela ainda chancela as acusações da oposição, em especial do senador Aécio Neves (PSDB-MG), de que Dilma mentiu durante a campanha eleitoral para se reeleger.

"Afunda-se o país e a reeleição navega num mar de inverdades, propaganda enganosa cobrindo uma realidade econômica tenebrosa, desconhecida pela maioria da população", escreveu.

O artigo foi interpretado pelo PT como um passo na estratégia da senadora de se divorciar do partido e embarcar em outra sigla, o PSB, para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2016.

No começo do ano, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" ela disse que o PT, partido que ajudou a fundar, "ou muda ou acaba".

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Editoria de Arte/Folhapress

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