Folha de S. Paulo


Ato em São Paulo começa com menos manifestantes que protesto anterior

"Estou triste, pensei que ia bombar". O lamento é da vendedora Luisa Belmont, na loja dentro da estação Consolação do metrô em São Paulo, repleta de produtos em verde-amarelo, mas praticamente sem clientes.

A presença de manifestantes no início do ato contra o governo Dilma Rousseff deste domingo (12) é nitidamente menor que o protesto anterior, de 15 de março.

Cerca de 100 mil pessoas protestaram na avenida Paulista, no centro de São Paulo, segundo o Datafolha. No horário de pico, às 16h, a estimativa era de que havia 92 mil pessoas no local.

Nas estações de metrô da região da av. Paulista, ao contrário da "invasão verde-amarela" de um mês atrás, os manifestantes eram minoria na plataforma, quase vazia por volta das 12h.

Na avenida, a presença menor de manifestantes também era óbvia. Por volta das 13h30, era possível circular sem maiores dificuldades nas imediações do Masp. No protesto anterior, era preciso se espremer e ter paciência ao passar pela área.

"Da última vez, tivemos de trazer mais bonés. Hoje, reforçamos as mercadorias, mas o movimento está muito fraco, não vendi quase nada", disse Belmont.

Uma das novidades da loja para hoje é um megafone que, em som alto, toca o lema "Eu sou brasileiro/com muito orgulho/com muito amor". Adornado com a bandeira do Brasil, mas fabricado na China, a engenhoca corria o risco de encalhar. "Não vendi nenhum."

DISCURSO

Ex-ministro da Justiça (governo FHC) Miguel Reale Júnior subiu ao caminhão do Vem Pra Rua e discursa: "Chamaram essa presidente da República para ser um boneco de ventríloquo do PT. Não vamos admitir isso. Só temos uma palavra de ordem agora: investiga a Dilma por causa da corrupção da Petrobras".

O tom dos discursos centra fogo na corrupção na Petrobras e em pedidos de impeachment de Dilma. O músico e humorista Juca Chaves, 76, canta versos anti-PT: "Enquanto bilionários investem lá no norte, no norte da Suíça/ Democracia é isto, é viajar para Cuba com nossa presidente/ Infeliz o país andou pra trás/ Secaram a nossa Petrobras/ Adeus, ladrões/ Adeus, PT saudações".

Antes do início dos discursos, a Polícia Militar mandou um caminhão do Vem para Rua se deslocar dez metros na rua para garantir circulação na Paulista. Cerca de quinze ativistas ligados ao grupo realizaram um "skataço", batendo com o "shape" de seus skates na calçada - numa versão do panelaço que ocorreu durante pronunciamento da presidente em cadeia de TV no mês passado.

Coberto com a bandeira de São Paulo, o geólogo Richard Margut, 54, diz que foi à Paulista porque o setor de mineração "está parado no Brasil por falta de segurança jurídica".

"Estava nas Diretas Já com a minha mulher há 30 anos. Voltei porque sou gerador de emprego, pagador de imposto e ainda tenho de ouvir que quem está roubando nosso país é herói do povo brasileiro", disse.

BOLSONARO

Um dos únicos políticos presentes no protesto contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) em São Paulo, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) diz que "é natural" que o movimento anti-Dilma seja "ascendente" e tenha a adesão de menos pessoas e menos lideranças políticas. Segundo ele, os políticos "têm medo de estar nesse movimento".

"Sou bem tratado pelo meu passado e Aécio deveria estar aqui", disse o deputado à Folha, em referência ao senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB. O tucano tem feito vídeos de convocação aos protestos, mas não compareceu em nenhuma das duas manifestações.

Militante do PSDB, o administrador Eduardo Marinho, 47, foi com uma camiseta do partido à av. Paulista. Para ele, um dos poucos militantes identificados no local, os tucanos deveriam "absorver mais" as manifestações, principalmente o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Ele afirma que o que prejudica a presença partidária maciça no protesto de hoje são grupos radicais. "Tem gente a favor da intervenção militar, mas felizmente é a minoria. Sou a favor da cassação da campanha de Dilma, que já se provou que recebeu propina", disse.

MILITARES

Lideranças do SOS Forças Armadas, presentes na Paulista, cobram intervenção militar e dizem que nunca houve ditadura no Brasil. "Se tivesse tido ditadura, a Dilma não era presidente, ela estava morta. Porque na ditadura, quem é contra o governo não é exilado, é morto no paredão", disse um dos organizadores. Ele foi muito aplaudido pelo público presente.

Tocando hinos pátrios e "Aquarela do Brasil", o carro de som da União Nacionalista Democrática (UND) homenageou o ex-agente do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) Carlos Alberto Augusto, investigado pela Comissão da Verdade paulista por envolvimento em desaparecimentos e torturas.

"Vovô Metralha, obrigado por tudo", dizia um cartaz com a foto de Augusto no alto do carro. Ele participou, em 1973, da mais violenta chacina do período militar, massacre da chácara São Bento, em Pernambuco, quando seis militantes de esquerda foram executados.

"Somos contra o crime organizado do Estado", disse Augusto, vestido de gravata borboleta e capacete usado na Revolta Constitucionalista de 1932 herdado do avô. "Apoiamos quem tiver autoridade para fazer isso, pode ser o juiz Sergio Moro, o [presidente do STF, Ricardo] Lewandowski ou os militares."

Durante a breve conversa com a reportagem, Augusto, que se aposentou como delegado da Polícia Civil paulista no ano passado e também é conhecido como "Carteira Preta", atendeu a vários pedidos para fotos. Um dos admiradores portavam o cartaz: "Temos nosso herói. Inimigo número 1 da esquerda bandida".

PARTIDO

Um grupo recolhia assinaturas para a criação do Partido Militar Brasileiro. "Não apoiamos qualquer movimento intervencionista ou que peça a volta da ditadura," afirma o consultor de TI Wagner Pisani, 54. "Se nós quiséssemos a volta da ditadura, não estaríamos tentando criar um partido. Temos por princípio os valores democráticos."

Outro militante do PMB, Sérgio Weber, 49, administrador, afirma que o partido juntará civis e militares para criar "o primeiro partido de direita do Brasil, pra fazer frente a toda essa esquerda". Os militantes também colhem assinaturas para a abertura de uma CPI no BNDES.


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