Sete pessoas, entre elas um empresário que se apresenta como primo do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), foram indiciadas sob suspeita de organização criminosa, fraude em licitação e falsidade ideológica.
O Ministério Público deve oferecer denúncia contra o grupo nesta sexta-feira (27).
Para a Promotoria, o líder do suposto esquema, que teria atuado para fraudar uma licitação para o conserto de carros oficiais do governo paranaense, é o empresário Luiz Abi Antoun.
Ele é conhecido em Londrina (a 380 km de Curitiba) como "primo" de Richa e usaria o relacionamento para demonstrar influência política.
O governo do Paraná nega que eles sejam parentes –diz que a bisavó do tucano era irmã da avó de Abi Antoun.
O empresário foi preso no último dia 16, quando o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) deflagrou a Operação Voldemort. Ele foi solto uma semana depois, depois que a Justiça lhe concedeu um habeas corpus.
Durante o período de sua detenção, Abi Antoun não ficou em uma penitenciária. O juiz da Vara de Execuções penais determinou que ele fosse transferido para um quartel do Corpo de Bombeiros, porque o parentesco com o governador poderia colocar sua segurança em risco num estabelecimento prisional.
Segundo as investigações, Abi Antoun é o proprietário oculto da empresa Providence Auto Center, montada na cidade de Cambé exclusivamente para ganhar uma licitação para o conserto de carros do Estado.
A Providence venceu a concorrência, supostamente direcionada, e assinou um contrato de R$ 1,5 milhão para prestar o serviço por seis meses. O compromisso foi suspenso neste mês, após as investigações.
A Folha apurou que o Ministério Público também pretende investigar uma doação eleitoral de R$ 100 mil que a empresa de reciclagem Alumpar Alumínios fez para a campanha de Richa.
Segundo a imprensa paranaense, um dos filhos de Abi Antoun é sócio da Alumpar.
Na última segunda-feira (23), o PSDB-PR divulgou nota ressaltando que todas as doações à campanha de Richa foram legais e voluntárias e que a Justiça Eleitoral aprovou as contas do tucano.
A Folha não conseguiu localizar Abi Antoun. A reportagem deixou recado no escritório de um de seus advogados, mas não houve resposta até o início da noite desta quinta-feira (26).
HARRY POTTER
A operação do Gaeco foi batizada como Voldemort numa referência à série de livros "Harry Potter", em que o vilão da saga é descrito como "aquele cujo nome não deve ser pronunciado".
O motivo foi que, ao longo da investigação, os demais suspeitos só chamavam Abi Antoun como "o líder" ou "o chefe". O nome dele, assim como o do arqui-inimigo do bruxo, nunca era mencionado.