Folha de S. Paulo


Delatores afirmam que mais 4 gerentes recebiam propina

Os dois executivos da Camargo Corrêa que fecharam um acordo de delação premiada com procuradores e policiais federais da Operação Lava Jato relataram nos depoimentos que quatro gerentes da Petrobras também receberam propina da empreiteira, segundo a Folha apurou com investigadores do caso.

Os nomes dos quatro gerentes, que continuam na estatal, não haviam aparecido até agora na investigação. Os executivos da Camargo Corrêa disseram que eles pediam suborno sempre que era preciso assinar um contrato ou aditivo para um empreendimento.

Uma das obras em que os gerentes receberam suborno, de acordo com os depoimentos, é a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, cuja construção está em fase final.

A Camargo tem um dos maiores contratos para a construção dessa refinaria. O consórcio CNCC, liderado pela empreiteira, foi agraciado com um contrato de R$ 3,3 bilhões. O custo final da refinaria é estimado em US$ 18,5 bilhões (R$ 61 bilhões em valores correntes).

O investigado pela Operação Lava Jato que mais devolveu recursos aos cofres públicos até agora é um ex-gerente da diretoria de Serviços, Pedro Barusco: US$ 97 milhões (R$ 320 milhões atualmente). Dois ex-diretores estão presos (Nestor Cerveró e Renato Duque) e Paulo Roberto Costa, que dirigiu a área de abastecimento, foi solto após fazer acordo de delação.

CARTEL

Os dois integrantes da cúpula da Camargo Corrêa que fizeram o acordo de delação são Dalton Avancini, presidente da empreiteira, e Eduardo Leite, vice-presidente da área de finanças.

O presidente do conselho de administração da empresa, João Auler, quis fechar um acordo, mas sua tentativa foi refutada pelos procuradores porque ele dizia não conhecer detalhes do esquema.

Os três estão presos desde 14 novembro na custódia da Polícia Federal em Curitiba (PR), sob acusação de terem pago R$ 40 milhões em suborno para fecharem contratos com a estatal. Eles também são réus por acusações de lavagem de dinheiro e formação de cartel.

Os dois executivos que fecharam o acordo já reconheceram nos depoimentos que as empreiteiras atuavam como cartel, apesar de insistirem que havia obras em que havia concorrência de verdade entre as empresas.

A dupla que faz a delação deve sair da prisão em breve. O acordo estabelece que eles devem ter uma pena menor em troca das informações sobre irregularidades que revelarem aos procuradores.

Os depoimentos foram concluídos na semana passada, mas o teor continua sob sigilo porque a Justiça ainda não homologou as delações.

Só um trecho foi revelado até agora. Nele, Leite diz que João Vaccari, tesoureiro do PT, disse saber que a Camargo atrasara o pagamento de suborno de R$ 10 milhões e pediu que o valor fosse entregue ao PT por meio de doação oficial, o que o partido nega.

OUTRO LADO

A Petrobras e a Camargo Corrêa não quiseram comentar a declaração de dois executivos da empreiteira de que quatro gerentes da estatal recebiam propina.

Em nota, a empresa afirma que a construtora não pode se pronunciar sobre documento ou informação que desconhece e não teve acesso". A maior parte dos depoimentos segue sob sigilo.

Segundo a Camargo Corrêa, "a empresa permanece à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e desenvolve esforços para sanar eventuais irregularidades".

O PT e a defesa de João Vaccari negaram o relato feito por Eduardo Leite de que o tesoureiro pedira que um suborno de R$ 10 milhões fosse depositado como doação oficial.

O PT reitera que só recebe doações registradas na Justiça eleitoral. O advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D'Urso, disse em nota que seu cliente não participou de "esquema para recebimento de propina ou de recursos de origem ilegal destinados ao PT".


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