Folha de S. Paulo


Duque nega parentesco com Dirceu e diz que mulher nunca procurou Lula

Fernando Bizerra Jr./Efe
O ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que se negou a responder questões sobre a estatal em CPI na Câmara
O ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que se negou a responder questões sobre a estatal na CPI

Apesar de ter adiantado à CPI da Petrobras que permaneceria calado no depoimento desta quinta-feira (19), o ex-diretor da estatal Renato Duque deu breves declarações e negou que ele ou sua mulher tenham parentesco com o petista José Dirceu ou que ela tenha procurado o ex-presidente Lula para pedir ajuda para que fosse solto.

Preso na última segunda-feira (16) pela décima fase da Operação Lava Jato, Duque já havia sido convocado pela CPI e –após a suspensão de um ato da Câmara que impedia a oitiva de presos dentro da Casa– foi conduzido da carceragem da Polícia Federal até a Câmara para ser ouvido pelos deputados.

Ex-diretor de Serviços da Petrobras, Duque é apontado pelo ex-gerente Pedro Barusco, seu subordinado, como beneficiário do pagamento de propinas de empresas. Segundo Barusco, que assinou delação premiada, Duque recebia parte da propina e ainda repassava outra parte ao PT, por meio do tesoureiro João Vaccari Neto. Ambos negam as acusações.

Duque começou a falar por volta das 10h30. Ao ser apresentado, já adiantou: "Existe uma hora de falar e uma hora de calar. Esta é a hora de calar, do meu ponto de vista, eu estou sendo acusado, me encontro preso, então por esse motivo é que eu estou exercendo meu direito constitucional ao silêncio".

Provocado pelos deputados, chamado de "corrupto" e criticado por ficar calado, Duque não resistiu quando os parlamentares começaram a ameaçar convocar sua mulher e quando Izalci Ferreira (PSDB-DF) perguntou se havia laços de parentesco dele ou dela com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado no mensalão, como citado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, delator da Lava Jato.

"Quando eu digo infelizmente [não posso responder], é porque realmente tem determinadas perguntas que não tem nenhum problema de responder. Uma questão de parentesco é uma questão de árvore genealógica, basta olhar a árvore genealógica de um e de outro. Não tem nenhum parentesco, nunca teve", afirmou, duas horas depois de ter avisado que não falaria nada.

Também às acusações de que sua mulher teria procurado o ex-presidente Lula ou o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para pedir ajuda na libertação dele na primeira vez que foi preso, Duque se pronunciou e negou.

"Minha esposa nunca esteve com o presidente Lula ou com o senhor Okamotto. Não conhece, nunca conheceu", afirmou Duque.

A deputada petista Maria do Rosário (RS) repudiou ameaças de convocação à mulher de Renato Duque. "As pessoas devem responder pelos seus atos. Por isso, repudio como mulher, como mãe."

Em outro breve momento de declaração, negou conhecer o doleiro Alberto Youssef, apontado como operador da propina na diretoria de Paulo Roberto Costa.

A outra vez em que ele se pronunciou foi após ser perguntado, pela deputada Eliziane Gama (PPS-MA), se seu filho trabalharia em uma empresa ligada à UTC e cita a Technip –e questiona se ele estaria envolvido no esquema de corrupção.

"Faço questão de responder essa pergunta, se trata do meu filho. A Technip não tem nada a ver com a UTC. É uma das maiores empresas da área de petróleo do mundo, internacional, muito maior que a UTC", disse.

"meu filho trabalhou nessa empresa, em Houston, e em um tempo no Brasil. Meu filho é economista formado, foi recrutado por um headhunter. Quando foi recrutado pra trabalhar nessa empresa nos Estados Unidos eu fiz uma consulta formal ao jurídico da Petrobras se haveria algum empecilho, falaram que não tem problema", disse Duque.

MENSALÃO

Os parlamentares tentaram incentivar Duque a falar e lembraram a ele do caso de Marcos Valério, condenado no mensalão, atualmente preso em regime fechado, enquanto Dirceu já teve progressão para o regime aberto.

O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), afirmou a ele que "a chance de ser protegido pelo PT é zero". "A postura do senhor Marcos Valério no mensalão foi que 'o PT vai me salvar'. Momentos antes de ser preso, tentou denunciar os envolvidos, e aí sua delação premiada não foi mais acolhida. Resultado: 40 anos de prisão".

"Você vai ser o [novo] Marcos Valério e vai apodrecer na cadeia", disse o deputado Darcisio Perondi (PMDB-RS).

DELAÇÃO

Os deputados sugeriram que Duque feche uma delação premiada. "Não vai sobrar ninguém com o senhor daqui a pouco, Renato Duque", afirmou Aluisio Mendes (PSDC-MA). "Depois de condenado, quando olhar pro lado, só vai sobrar o senhor na cadeia."

Em tom ameno, o deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA) fez coro "Embora denunciado, [no caso do senhor] acho que existe praticamente uma condenação. Faça a contribuição da delação premiada", sugeriu.

André Moura (PSC-SE) sugeriu que se mude a Constituição para não permitir mais que investigados fiquem calados.


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