Folha de S. Paulo


Aconselhada a demitir ministro, Dilma chama Cid Gomes para conversa

Gustavo Lima/Agência Câmara
O ministro da Educação, Cid Gomes (à dir.), durante sessão em que foi convocado na Câmara
O ministro da Educação, Cid Gomes (à dir.), durante sessão em que foi convocado na Câmara

Aconselhada por assessores a demitir Cid Gomes, a presidente Dilma Rousseff chamou seu ministro da Educação para uma conversa, que pode acontecer ainda nesta quarta-feira (18).

Cid deixou intempestivamente a sessão da Câmara em que iria explicar sua frase sobre a existência de "300 ou 400 achacadores" na Casa –a qual descambou para trocas de acusações diretas sobre o que o ministro chamou de intenção do PMDB de tomar a sua pasta.

O ministro fez novas acusações e deixou o plenário quando foi acusado de fazer "papel de palhaço" por um deputado do PSD, partido da base aliada. Foi duramente criticado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, com quem já havia discutido.

Durante sua fala, o ministro criticou Cunha, alvo de inquérito na Operação Lava Jato, ao dizer que é melhor ser "acusado de mal-educado" do que "acusado de achaque".

"Eu fui acusado de mal-educado [por Eduardo Cunha]. O ministro da Educação é mal-educado. Pois muito bem: prefiro ser acusado por ele [Cunha] de mal educado, do que ser como ele acusado de achaque", afirmou, apontando para o presidente da Câmara. A frase é uma referência à delação do doleiro Alberto Youssef, que acusou Cunha de, por meio de aliados, apresentar requerimentos para pressionar uma empresa a pagar propina.

Cunha encerrou a sessão antes do previsto.

"Está claro e nítido que não há clima para continuidade de sessão. (...)Peço desculpas aos 71 parlamentares inscritos, porque vamos perder nosso dia de trabalho com quem parece que não esta merecendo", disse o presidente da Casa.

Ele afirmou que Gomes será não apenas interpelado pelo procurador da Câmara como também deverá ser alvo de processo pela Casa. Disse ainda que, como pessoa física, pretende processar Gomes, diante de menção do ministro a seu envolvimento em denúncias de corrupção apuradas na operação Lava Jato.

"Não vou admitir que alguém que seja representante do poder Executivo não só agrida essa Casa como agrediu (...) e venha aqui e reafirme agressão".

'LARGAR O OSSO'

Em sua fala, Gomes ainda fez críticas à falta de lealdade da base aliada em votações no Congresso e ressaltou que, caso queiram manter essa postura, que "larguem o osso" e, assim, deixem os cargos no governo da presidente Dilma Rousseff.

Autor do requerimento da convocação, o líder do DEM Mendonça Filho (PE) ironizou: "Criou-se uma situação tão desmoralizante para a base do governo que é literalmente inacreditável. Não precisamos de oposição nesta Casa. Este governo produz uma crise por dia."

A fala de Cid Gomes ocorre em um momento delicado quando o governo tenta reduzir as tensões com o Congresso para aprovar o ajuste fiscal, que é criticado tanto por parlamentares da base quanto da oposição.

DEMISSÃO

O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), condicionou o apoio do partido ao governo à demissão de Cid. Ele afirmou que a legenda "não estará no mesmo governo que o ministro Cid Gomes".

A expectativa de Dilma é de que Cid fosse se desculpar, mas assessores seus agora consideram que sua posição ficou indefensável.

Diante do mal-estar, Cid foi questionado se deixaria o governo. "Se eu fosse pedir demissão eu não poderia, por dever de ética, antecipar essa possibilidade. Seria uma descortesia com quem me convidou", afirmou.


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