Folha de S. Paulo


Cardozo diz que governo quer dialogar sobre reforma política com 'todos'

Beto Barata/Folhapress
Os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Eduardo Braga (Minas e Energia) durante entrevista no Planalto
Os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Eduardo Braga (Minas e Energia) durante entrevista

Um dia após ser surpreendida pelo tamanho das manifestações contrárias ao seu governo realizadas em todo o país, a presidente Dilma Rousseff reuniu dez ministros de sua articulação política e o vice-presidente Michel Temer para avaliar as consequências dos protestos e da reação do governo, anunciada neste domingo (15), na forma de um pacote de propostas de combate à corrupção e à impunidade.

Os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Eduardo Braga (Minas e Energia) repetiram o discurso do governo na noite de domingo. Ressaltaram o caráter democrático dos protestos e a legitimidade dos grupos contrários ao governo de demonstrarem suas insatisfações.

Os ministros reafirmaram que o governo está sendo "humilde" em reconhecer que precisa dialogar mais, principalmente com setores da oposição e da sociedade civil.

"O governo assume como postura central o diálogo com todas as suas forças sociais. Pouco importa se são forças que estão com o governo ou se são contrárias a ele. O governo quer dialogar com todos", afirmou Cardozo.

Para os ministros, os protestos demandam mudanças profundas no sistema político brasileiro. Cardozo disse que, se antes as pessoas pediam melhoria nos serviços, agora querem uma reforma política e uma melhor explicação sobre o que está sendo feito para restabelecer a economia brasileira.

O ministro da Justiça afirmou que até o fim desta semana, o governo irá apresentar o pacote anticorrupção –prometido ainda durante a campanha de Dilma à reeleição– e que todos os setores da sociedade serão ouvidos sobre as propostas. Cardozo ressaltou que "ouvir exige um ato de humildade e respeito". "O governo respeita as pessoas que pensam igual a nós ou não", disse.

Questionado sobre em que momento, na prática, o governo irá sentar com a oposição e com setores da sociedade civil para discutir as medidas, ele enfatizou que a "postura de diálogo assumida pelo governo não é algo retórico, é algo real". "Temos que agir com firmeza mas com humildade. E ser humilde é o inverso de ser tímido."

Braga defendeu os ajustes na economia e disse que o governo protegeu o país da crise internacional e agora mostra à população com "absoluta transparência" o que precisa ser realizado.

"O governo utilizou até o limite da responsabilidade para realizar intervenções econômicas, garantir subsídios e desonerações. O governo usou até o esgotamento da sua capacidade responsável", disse. Ele defendeu que o governo agora está tendo a "coragem" de fazer os ajustes.

Com o acirramento da crise, ganhou força no governo a tese de uma nova reforma ministerial para acomodar o PMDB –principal partido da base aliada e o que mais tem pressionado a presidente Dilma. Cardozo e Braga, no entanto, negaram que este tema tenha sido discutido durante a reunião.

PANELAÇO

Cardozo comentou o panelaço realizado de domingo, enquanto ele e o ministro Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) avaliavam os protestos em entrevista à imprensa. Para ele, uma pessoa que se incomodasse com isso, não seria um "democrata".

"Eu acho que uma pessoa que se constrange com manifestações democráticas não é um democrata. As pessoas não queriam ouvir o que estávamos dizendo e queriam protestar, se manifestaram. Isso é democrático. Muitos brasileiros ouviram o que nós queríamos dizer, podem ter concordado, discordado", afirmou.

Cardozo completou dizendo que na época da ditadura, se alguém batesse em panelas para criticar o ministro da Justiça, poderia se enquadrado na Lei de Segurança Nacional. "Naquela época, os ministros da Justiça diziam 'nada a declarar'. Hoje eu tenho o dever de declarar, então essa situação foi conquistada pelos brasileiros. [...] Eu estaria rasgando um passado de lutas do povo brasileiro se tivesse algum incômodo, constrangimento em relação a isso", disse.

Além de Braga e Cardozo, participaram da reunião os ministros Aloízio Mercadante (Casa Civil), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), Thomas Traummann (Comunicação Social), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Eliseu Padilha (Aviação Civil), Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), Gilberto Kassab (Cidades), Jaques Wagner (Defesa) e o assessor especial da Presidência, Giles Azevedo.


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