Folha de S. Paulo


Vera Magalhães: Dilma e seus ministros não incorreram no erro de minimizar protestos

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Uma semana depois do panelaço que pegou o governo de surpresa e sacudiu 12 capitais durante o pronunciamento de Dilma Rousseff no Dia da Mulher, a presidente e seus auxiliares não incorreram no mesmo erro do PT: o de minimizar e ironizar os protestos em todo o país.

Se nas redes sociais o PT e seus apoiadores ainda apostavam em piadas velhas e batidas como "coxinhata", manifestação da "elite branca" e pinçavam cartazes de uma minoria radicalizada em meio a um mar de gente de verde e amarelo, Dilma reuniu ministros próximos para organizar uma resposta às reivindicações das ruas.

Ministros diziam já no meio da tarde de domingo que não era possível minimizar os protestos, nem vinha ao caso contestar números, pois eles seriam sempre pelo menos na casa das centenas de milhares, dois meses depois da posse da presidente –o que é imenso, preocupante e deve ser levado em conta com seriedade.

Nas ruas, o que se viu foi gente comum que saiu de casa num domingo, em São Paulo debaixo de chuva, para reclamar do governo. Diferentemente de junho de 2013, quando os protestos eram múltiplos e a pauta, difusa, neste 15 de março o que se viu foi uma motivação clara de protestar contra Dilma e contra o PT.

Mapa dos protestos de março de 2015; Crédito Rubens Fernando/Editoria de arte/Folhapress

O grosso das pessoas não pedia intervenção militar e a volta da ditadura, exatamente 30 anos depois da volta da democracia ao país. Já o "fora Dilma" e "fora PT" foram entoados de forma mais constante, o que deve acionar o alarme do partido e do governo.

Não havia nas cidades em que ocorreram manifestações apenas a indefectível elite branca batizada pelo branco e membro da "elite" Cláudio Lembo. Quem foi à rua foi gente comum, de classe média –média baixa, média média, média alta–, atendendo a uma convocação que nem sabia ser deste ou daquele movimento.

Não foram importantes as manifestações de partidos políticos, e a oposição parece a reboque num movimento que nasce da sociedade civil, se alimenta das redes sociais e do Whatsapp e não parece a fim de ser tutelado.

Também não se viu a violência que marcou os atos em vários momentos em junho de 2013. As poucas ocorrências foram contornadas pela polícia sem maiores incidentes.

O governo percebeu que não será possível dar de ombros para o que se viu em 15 de março –que, é importante frisar, foi o primeiro ato convocado contra o governo; em 1992, contra Fernando Collor, e em 1999, contra FHC, eles se multiplicaram depois dos primeiros.

A presidente convocou seus ministros a permanecerem em Brasília, mandou dois deles para uma coletiva ainda na tarde deste domingo e está preparando mudanças de rumo para tentar reagir à crise política e econômica. Resta agora reconquistar uma parcela da população que está muito zangada –sem rotulá-la ou achar que, por não ser o eleitorado de Dilma em 2014, pode ser descartada. Seria um erro talvez fatal.


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