Folha de S. Paulo


Polícia usa bombas de gás para dispersar manifestantes em Brasília

A Polícia Militar do Distrito Federal lançou dezenas de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral contra manifestantes que protestavam em frente ao Congresso Nacional neste domingo (15), horas depois do auge da manifestação que, segundo a PM, reuniu 45 mil pessoas.

Manifestantes reagiram jogando pedaços de pau, pedras e garrafas de água. Segundo os policiais, as bombas foram lançadas depois que eles foram alvo de garrafas lançadas por um grupo de manifestantes que tentou invadir o prédio do Congresso.

Pelo menos duas pessoas ficaram feridas e várias passaram mal ao inalar o gás lacrimogêneo. Outras quatro foram detidas pelos policiais e levadas para averiguação. Houve depredação de cestos de lixo em frente a pelo menos dois ministérios: Integração Nacional e Agricultura.

Depois das bombas lançadas pela Tropa de Choque, um grupo de cerca de 200 pessoas saiu de frente do Congresso e se sentou no gramado da Esplanada dos Ministérios em frente ao Palácio do Itamaraty, resistindo a deixar o local. O grupo também foi dispersado pela polícia com o lançamento das bombas e rumou para a rodoviária, onde houve novo confronto. A PM usou gás de pimenta contra manifestantes, mas acabou atingindo populares que estavam no local.

O vendedor ambulante José Nilton Alves Figueiredo, 40, e seus dois filhos (de 6 e 8 anos) foram atingidos pelo gás de pimenta. Nilton, que vende milho na rodoviária, disse que foi surpreendido pelos policiais que mandaram ele sair do local.

"Essa polícia é uma vergonha", disse o vendedor, socorrendo um dos filhos que se contorcia por causa dos efeitos do gás de pimenta.

O estudante Gabriel Martins, 14, inalou gás lacrimogêneo e passou mal junto com uma prima enquanto estava sentado perto do Itamaraty. Chorando, criticou a ação dos policiais. "Vim aqui para um Brasil melhor, olha essa polícia", disse. "A gente estava aqui numa manifestação passiva. Tratam a gente que nem animal (sic)."

Daiane Costa Albuquerque, 22, trabalha numa farmácia de manipulação e disse que foi atingida por estilhaços de bombas de efeito moral atrás da cabeça e pouco abaixo do olho esquerdo. Ele disse que chegou a desmaiar, foi levada para um hospital e recebeu um curativo. Quando voltou para a rodoviária, ela foi empurrada por policiais militares para que saísse de perto da escada rolante, conforme a Folha presenciou. "Vim ao protesto por uma reforma política e o que aconteceu foi uma falta de respeito", disse Daiane.

Editoria de Arte/Folhapress

MANHÃ PACÍFICA

Pela manhã, as manifestações em Brasília chegaram a contar com cerca de 45 mil pessoas, segundo cálculo da PM. Os organizadores do protesto afirmaram que cerca de 100 mil participaram da manifestação na capital federal.

O protesto começou por volta das 9h30. No início da tarde, a maior parte dos manifestantes começou a deixar a Esplanada. Mas um grupo pequeno ficou em frente ao Congresso Nacional gritando palavras de ordem contra a presidente Dilma Rousseff.

No início do dia, os manifestantes se concentraram em frente ao Museu Nacional, no início da Esplanada, e depois seguiram em direção ao Congresso. Oito carros de som deram apoio aos participantes.

A PM bloqueou as vias que dão acesso à Praça dos Três Poderes, para evitar que os manifestantes chegassem até o Palácio do Planalto e ao prédio do STF (Supremo Tribunal Federal).

Uma barreira de policiais foi montada em frente ao Congresso. Segundo a PM, dois mil policiais trabalharam na segurança do protesto, além de 200 viaturas de apoio, 700 bombeiros e 42 agentes de trânsito.

Com faixas e cartazes pedindo a saída de Dilma e do PT do governo, a manifestação aconteceu de forma pacífica e ao longo de toda a manhã. Nenhuma ocorrência havia sido registrada pela PM até as 14h30.

O único incidente registrado durante a manhã aconteceu em frente ao Congresso, quando uma pessoa ergueu um cartaz em defesa de Dilma. Manifestantes cercaram o homem, que acabou sendo retirado pelos policiais pela garagem do Senado Federal.


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