Folha de S. Paulo


Protesto em BH pede 'fora Dilma' e tem tumulto por restrição à zona sul

As manifestações contra o governo Dilma Rousseff ocorridas neste domingo (15) na zona sul de Belo Horizonte, cidade natal da presidente, mobilizaram milhares de pessoas que rechaçaram não só a mandatária do país, mas também o PT.

A manifestação da manhã, convocada por movimentos como o Vem Pra Rua e outros formados especialmente para esse protesto, chegou a ter pico de 50 mil pessoas, segundo os organizadores –ou 24 mil, de acordo com a Polícia Militar.

Apesar de o Vem Pra Rua não ter usado a palavra impeachment ou pregado mudança de governo no manifesto que divulgou na semana passada, o som mais ouvido no ato em BH foi "fora Dilma" e "fora PT".

Talvez por esse motivo, integrantes do Vem Pra Rua chegaram ao fim do ato já admitindo a saída da presidente.

"O impeachment é tema, mais pela mudança de governo, inclusive do Michel Temer [vice-presidente, do PMDB]", disse Renato Correia, que comandou o carro de som.

Não só o PT, o ex-presidente Lula e Dilma foram vaiados. Muitos cartazes com críticas ao ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), foram vistos em BH. As críticas a ele são pelo fato de Toffoli, ex-advogado do PT, participar do julgamento do escândalo da Petrobras.

Cartazes e faixas com críticas ao Congresso, pedindo a volta dos militares, a pena de morte para ladrões, corruptos e corruptores também foram exibidos pelos manifestantes, que vestiam em sua maioria as cores da bandeira brasileira.

À tarde, outro ato convocado pelo Movimento Brasil Livre reuniu, segundo a PM, 2.000 pessoas. Mas ele durou cerca de uma hora. Se o ato da manhã teve muita família, o da tarde foi formado mais por jovens, que gritaram xingamentos a Dilma.

A reportagem não viu nenhuma bandeira de partido. Integrantes do PSDB, contudo, estavam lá –caso do presidente regional da sigla, o deputado federal Marcus Pestana.

"Estou aqui como cidadão, contra a corrupção e pela democracia. Impeachment não é objetivo, é consequência; não é desejo, é instrumento previsto na Constituição. Não podemos ter três anos de mais melancolia, de sofrimento", disse Pestana.

Alguns manifestantes de Belo Horizonte, onde também nasceu o senador oposicionista Aécio Neves (PSDB), mostravam camisetas e adesivos lembrando que votaram no tucano: "A culpa não é minha. Eu votei no Aécio".

Editoria de Arte/Folhapress

DISCÓRDIA E TUMULTO

O movimento da manhã teve um momento de tumulto. Foi quando integrantes do carro de som quiseram manter o ato apenas na zona sul, enquanto um grupo queria ir até o centro da cidade, para torná-lo "mais popular".

Um manifestante usou o carro de som para argumentar que eles são sempre chamados de "coxinha" e por isso era preciso sair da zona sul e ir para o centro da cidade.

Um grupo chegou a ir em direção ao centro, mas os organizadores mandaram o carro de som virar em direção à praça da Savassi, alegando que a PM não permitiu ir até o centro por causa de uma feira dominical de arte e artesanato.

Nesse momento começou o tumulto, porque manifestantes sentaram no chão para impedir o caminhão de mudar a rota.

Depois de quase uma hora de polêmica, a Polícia Militar conseguiu liberar a rua para o caminhão de som passar, e os manifestantes foram muito xingados. Houve ameaças e tentativas de agressão ao grupo.

Um aposentado que se deitou no chão reclamou. "Esse povo está fazendo o mesmo jogo do PT, que não quer que a manifestação vá para o centro da cidade. Eles só querem ir para lugar de rico [praça da Savassi]", disse José Wilker, 79.

O capitão Antuer Júnior, da Sala de Imprensa da PM, negou mais tarde que a polícia tenha impedido os manifestantes de seguirem até o centro da cidade, como argumentaram os organizadores sobre o carro de som.

MENSAGENS A DILMA

Passado o tumulto, a passeata seguiu ao som do samba "Se gritar pega ladrão / não fica um, meu irmão", música anunciada como o "tema" da manifestação que de tempos em tempos era tocada, como o hino nacional.

Em frente ao Palácio da Liberdade, uma das sedes do governo de Minas, os organizadores leram alguns dos muitos cartazes de protesto "para o governador petista Fernando Pimentel repassar as mensagens para Dilma".

Quando a manifestação passou, centenas de cartazes ficaram afixados na grade do palácio, como um varal de protestos. A manifestação, enfim, terminou na Savassi.

O caminho para o Impeachment; Crédito William Mur/Editoria de Arte/Folhapress


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