Folha de S. Paulo


Sessão da CPI vira evento de desagravo a Eduardo Cunha

Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante depoimento à CPI da Petrobras
O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante depoimento à CPI da Petrobras

A sessão da CPI da Petrobras agendada para ouvir os esclarecimentos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nesta quinta-feira (12), se transformou num ato de desagravo, com direito a aplausos e palavras de solidariedade ao depoente.

Cunha é um dos parlamentares investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por suspeita de participação do esquema de corrupção na estatal.

Ele foi apontado pelo doleiro Alberto Youssef como beneficiário da partilha de propina de um contrato firmado pela Petrobras com empresas privadas para o aluguel de navios-plataforma.

Logo após a abertura da reunião, Cunha fez uma longa explanação e voltou a atacar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Afirmou que seu nome foi incluído na lista de investigados por uma opção política "sem critério" do PGR.

"Escolha irresponsável e leviana. Querem transferir a crise do outro lado da rua [Palácio do Planalto] para cá [Congresso]", acusou.

Entre os argumentos expostos, Cunha lembrou que lutou para seu partido ter candidatura própria, em vez de apoiar Lula à presidência da República, em 2006, ano em que ele teria recebido recursos ilícitos, segundo Youssef.

Os deputados da CPI, encarregados de inquiri-lo, aplaudiram assim que Eduardo Cunha concluiu sua defesa. Por pelo menos uma hora e meia, parlamentares da oposição e da base aliada se revezaram ao microfone para parabenizá-lo.

Líder do PSDB, Carlos Sampaio foi um dos que elogiou o presidente da Câmara. "Vossa excelência não perde em momento nenhum a autoridade para presidir essa casa", afirmou Sampaio.

Sibá Machado (AC), líder do PT, fez coro ao oposicionista: "Já tinha escutado ele [Cunha] em outras oportunidades e toda a sua preocupação. No momento eu compreendo perfeitamente é que não há nenhum fato que relacione o nome dele a essa lista [de investigados]."

Alguns parlamentares se abstiveram de fazer perguntas para jogar confetes no depoentes. Foi o caso de Aluísio Mendes, do PSDC do Maranhão.

"Saio dessa comissão e peço até ao presidente que retire meu nome dos inscritos, porque não resta pergunta a fazer, o presidente Eduardo Cunha rebateu ponto a ponto", anunciou Mendes.

Antes de Cunha começar a falar, Chico Alencar (RJ), líder do PSOL, alertou para a possibilidade de o presidente da Câmara estar sendo beneficiado em depor no início dos trabalhos da CPI, antes de outros personagens do escândalo.

"Esse depoimento não deve ter tom de desagravo e tem deficiência congênita. José Sérgio Gabrielli [ex-presidente da Petrobras] será ouvido a partir de depoimento de [ex-gerente da Petrobras, Pedro] Barusco. Cunha não terá seus esclarecimentos precedidos de oitivas fundamentais, como de Alberto Youssef", afirmou Chico Alencar.

Para alguns colegas, no entanto, Eduardo Cunha é fonte de inspiração, como disse Marcelo Aro (PHS-MG). "Vossa excelência é uma esperança de lutar para um país melhor", disse.

O deputado Rogério Rosso (PSD) chegou a perguntar a Cunha o que ele faria para resgatar a credibilidade da Petrobras, se fosse presidente da estatal.

Editoria de Arte/Folhapress

VOZES DISSONANTES

Alguns poucos parlamentares chegaram a fazer questionamentos a Cunha durante a sessão.

Um deles, que quebrou o gelo da comissão pelas críticas à própria CPI, foi a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ), cujo pai, Anthony Garotinho, é adversário de Eduardo Cunha. A deputada fez duros questionamentos ao presidente da Câmara. "O que vi aqui foi uma reunião de felicitações", disse.

A Cunha, perguntou se esteve com o lobista Fernando Baiano, se tem contas em empresas offshore, se esteve com o doleiro Alberto Youssef e quais razões ele teria para denunciá-lo. Cunha negou conhecer os citados personagens.

A deputada Eliziane Gama (PPS-MA) também questionou Cunha sobre seus sigilos e perguntou se ele estava desqualificando a lista de parlamentares investigados. Ele disse que não estava desqualificando a lista, mas apenas a sua participação nela. "Citei dois exemplos de incoerência", afirmou Cunha.

Já o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) perguntou se o presidente da Câmara, como se dispôs a comparecer antecipadamente à comissão, também colocaria antecipadamente à disposição seus sigilos bancário, fiscal e telefônico. Cunha respondeu que, caso a comissão quisesse, poderia quebrar seus sigilos –a CPI, porém, é controlada nos bastidores por ele.

"Não vou fazer uma bravata que coloque à disposição para obrigar quem quer que seja a fazer o mesmo. Façam dentro de um processo investigativo que deve ser feito. Não terá nenhum constrangimento", declarou.

Após a sessão, ele afirmou à imprensa não ter ido em busca de apupos nem de elogios. "Não tem nem leve nem pesado, tem os fatos, eu me ative aos fatos, se você acha que foi leve é porque os fatos são leves. Se precisasse ficar aqui 24 horas eu ficaria", comentou.

Procurada, a PGR informou por meio da assessoria de imprensa que não vai se pronunciar sobre as acusações feitas por Eduardo Cunha.


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