Folha de S. Paulo


Braskem pagou propina, dizem delatores

Dois delatores da Operação Lava Jato afirmaram que a petroquímica Braskem, controlada pela Odebrecht, pagou propina para comprar matéria-prima mais barata da Petrobras entre 2006 e 2012.

O doleiro Alberto Youssef disse que, em troca do suposto favorecimento, a Braskem pagava em média US$ 5 milhões por ano a ele e ao ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.

De acordo com o ex-diretor, os depósitos eram feitos no exterior e se misturavam com recursos depositados pela Odebrecht em suas contas.As empresas negam ter feito pagamentos ao ex-diretor.

Segundo Costa, que fez acordo para colaborar com a Justiça para obter pena menor, o valor da propina era combinado em reuniões na sede da Braskem, em São Paulo, e em hotéis da cidade.

Uma das maiores indústrias do ramo no mundo, a Braskem tem como maiores acionistas a Odebrecht (38%) e a Petrobras (36%). Fabrica produtos petroquímicos como o PVC, a partir de matérias-primas como nafta e propeno, vendidos pela estatal.

A Petrobras vendia esses produtos mais barato no exterior do que no Brasil, e a Braskem tentava obter da estatal um valor próximo ao do mercado internacional. Foi nesse cenário, segundo Youssef, que a empresa procurou o ex-deputado do PP José Janene, morto em 2010, que era padrinho de Costa na estatal.

Como a gerência responsável pela venda da matéria-prima era subordinada a Costa, o acerto foi feito, segundo o doleiro. Apesar do que dizem os depoimentos, a Braskem briga até hoje com a Petrobras por causa do preço da nafta.

Costa e Youssef disseram que, além deles, participavam dos encontros em que os acertos eram feitos Janene e o executivo Alexandrino de Alencar, então na Braskem e hoje no grupo Odebrecht.

Fechada a negociação, o acordo era discutido e sacramentado numa segunda reunião, esta apenas entre Costa e José Carlos Grubisich, então presidente da Braskem, ainda de acordo com Youssef.

O doleiro e o ex-diretor da Petrobras disseram que a propina era sempre paga no exterior. Segundo Youssef, 30% do dinheiro ficava com Costa e o restante ia para o PP. Ele disse que os recursos eram depositados em contas administradas lá fora por outros doleiros ligados a ele e depois dinheiro em espécie era entregue no Brasil para o rateio.

Segundo Youssef, a parte do PP era entregue a Janene e depois ao então deputado João Pizzolati (PP-SC), em sua residência em Brasília.

A comissão de Costa, por sua vez, era entregue por um operador do PP. Neste ponto, há uma contradição nos depoimentos dos dois delatores. Costa negou que houvesse um intermediário na entrega da propina e disse que recebia sua parte diretamente das empresas no exterior.


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