Folha de S. Paulo


Costa diz que ajudou a criar caixa 2 na campanha de Cabral e Pezão em 2010

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa trabalhou para formar "caixa dois" para a campanha do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) em 2010, segundo documentos em poder do STF (Supremo Tribunal Federal) nos autos da Operação Lava Jato.

A PGR (Procuradoria Geral da República) entregou ao ministro Teori Zavascki um resumo das declarações prestadas dentro do acordo de delação premiada por Costa e por outro delator da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef. No documento, a PGR informa que Costa descreveu todo o processo de arrecadação para um "caixa dois" de Cabral, que governou o Estado do Rio de 2007 a 2014.

Costa contou aos investigadores que reuniu-se com Cabral, a quem conhecia desde 2007, no primeiro semestre de 2010 "para tratar de contribuições [ajuda] para a campanha" de reeleição de Cabral. Na mesma reunião, segundo Costa, estavam o atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) –que então era candidato a vice na mesma chapa de Cabral– e o secretário de Estado da Casa Civil, Regis Fichtner.

Depois, Costa fez outra reunião, desta vez com empreiteiras que mantinham contratos com a Petrobras.

"Paulo Roberto Costa fez contatos com empresas que atuavam na obra do Comperj e solicitou que elas fizessem doações para o 'caixa dois' da campanha de Sergio Cabral. Participaram da reunião representantes das empresas Skanska, Alusa e Techint. Do consórcio Compar (OAS, Odebrecht e UTC), ninguém participou da reunião, mas o consórcio foi o principal 'pagador'", afirmou o ex-diretor.

Cada empresa, segundo Costa, deu "contribuição" no total de R$ 30 milhões. O Consórcio Compar pagou R$ 15 milhões, de acordo com o delator, e "o restante foi dividido entre as outras empresas, entre elas, Skanska, Alusa e UTC".

Segundo o delator, "o dinheiro saiu do caixa das empresas e a operacionalização ocorreu entre Regis e as empresas, mas não sabe precisar detalhes de como isso ocorreu".

Pezão, como ocupa o cargo de governador do Rio, deverá ser alvo de um inquérito específico no STJ (Superior Tribunal de Justiça), onde ele detém foro privilegiado. Ele tem negado irregularidades.

OUTRO LADO

Em nota, o ex-governador Cabral afirmou que é "mentirosa a afirmação do delator". "Essa reunião jamais aconteceu. Nunca solicitei ao delator apoio financeiro à minha reeleição ao governo do Estado do Rio. Todas as eleições que disputei tiveram suas prestações aprovadas pelas autoridades competentes. Reafirmo o meu repúdio e a minha indignação a essas mentiras", disse Cabral na nota enviado à Folha.

O ex-secretário Régis Fichtner, também em nota, disse ter recebido "com enorme surpresa e indignação" as declarações de Costa a seu respeito.

"Nunca participei de nenhuma reunião em que o então governador Sérgio Cabral tivesse solicitado ao sr. Paulo Roberto Costa ajuda para a arrecadação de recursos para a sua campanha. Nunca participei de nenhuma reunião com o sr. Paulo Roberto Costa e representantes das empresas Skanska, Alusa e Techint, muito menos para tratar de arrecadação de recursos para campanha. Nunca me reuni com representantes do Consórcio Compar para qualquer finalidade, muito menos para tratar de contribuições de campanha", disse Fichtner.

O advogado afirmou quer tomará "as medidas cabíveis decorrentes das mentiras declaradas em relação à minha pessoa".

Em nota, o governador Pezão também negou ter se reunido com Costa "para solicitar recursos para campanha". "Isso é um completo absurdo. Não tive nenhuma conversa com o senhor Paulo Roberto Costa e nem com ninguém da Petrobras para pedir ajuda de campanha. Não pedi e não recebi nenhum recurso dele. Estou muito tranquilo desde o primeiro momento", disse Pezão. Ele afirmou que não foi informado oficialmente sobre processo derivado da Lava Jato.

Em nota, a Techint informou "que não manteve qualquer contato com nenhuma das pessoas e/ou empresas mencionadas a respeito deste assunto. A Techint E&C nunca realizou qualquer pagamento ilegal a políticos ou partido".

A Alumini Engenharia (antiga Alusa) disse "repudiar com veemência as acusações absolutamente infundadas" feitas por Costa. "A empresa jamais participou de qualquer acordo ilícito e nunca pagou propina a nenhum agente público ou político". A Alusa "rejeita categoricamente toda e qualquer tentativa de envolvê-la em episódios escusos e reitera que todas as suas atividades sempre foram pautadas pela mais completa transparência e ética".


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