Folha de S. Paulo


Lobão levou propina de R$ 10 mi, diz delator

Um dos executivos da empreiteira Camargo Corrêa que passou a colaborar com as investigações da Operação Lava Jato disse a procuradores que o senador Edison Lobão (PMDB-MA) pediu e recebeu cerca de R$ 10 milhões de propina da empresa em 2011, quando ela foi contratada para participar da construção da usina de Belo Monte.

À época, Lobão era ministro das Minas e Energia do governo de Dilma Rousseff. O nome do então ministro já havia sido citado nas delações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.

Youssef dizia na carceragem da PF em Curitiba que Lobão era o "chefe" do esquema de desvios na Petrobras, segundo advogados ouvidos pela Folha.

O advogado do ex-ministro, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que "palavra de delator tem credibilidade zero" e que irá esperar as provas.

O executivo da Camargo, Dalton Avancini, fez o relato sobre a suposta propina paga a Lobão durante as negociações com procuradores para o acordo de delação. Ele também citou que houve trataiva sobre suborno na contratação da Camargo para fazer a usina atômica Angra 3.

Avancini e o vice-presidente da empreiteira, Eduardo Leite, fecharam um acordo no último dia 27, no qual se comprometem a revelar irregularidades praticadas pela empreiteira em troca de uma pena menor, conforme a Folha revelou.

Os dois estão presos desde meados de novembro sob acusação de pagar suborno a funcionários públicos e políticos para fechar contratos.

O pagamento a Lobão, segundo Avancini, ocorreu em 2011, ano em que a Camargo Corrêa foi contratada pela Norte Energia junto com outras nove empreiteiras para fazer as obras civis da hidrelétrica por R$ 13,8 bilhões. A

parte da Camargo Corrêa no consórcio corresponde a R$ 2,2 bilhões. A usina toda está orçada em R$ 19 bilhões; o valor inclui turbinas e outros equipamentos.

O consórcio, liderado pela Andrade Gutierrez, é formado por Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Serveng-Civilsan, Contern, Cetenco e J. Malucelli. Só as três últimas não são investigadas na Lava Jato.

A Norte Energia foi criada com empresas públicas depois que empreiteiras como a própria Camargo e a Odebrecht desistiram do leilão de Belo Monte por considerarem pequeno o retorno financeiro diante do investimento.

Como ministro das Minas e Energia, Lobão tinha poder de comando sobre as empresas públicas que controlam 49,98% da Norte Energia: Eletrobras, Chesf e Eletronorte.

A Norte Energia, constituída por empresas públicas e fundos de pensão e grupos privados, venceu em 2010 o leilão para fazer Belo Monte, a terceira maior usina hidrelétrica do mundo.

Avancini já adiantou aos procuradores que não foi ele quem pagou o suborno, mas um outro executivo da Camargo, cujo nome ainda não apareceu nas investigações.

A expectativa de delegados da Polícia Federal e procuradores é que este executivo faça acordo de delação e conte mais detalhes sobre a propina.


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