Folha de S. Paulo


Investigados negam acusações da operação Lava Jato; veja repercussão

Os 49 deputados e senadores que tiveram inquéritos abertos ou diligências investigativas autorizadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras já começam a se manifestar sobre as acusações.

A maioria nega envolvimento com os fatos descritos nos pedidos de inquérito.

Os nomes das autoridades políticas foram tornados públicos na noite de sexta (6) por decisão do ministro Teori Zavascki, relator dos processos relativos à Operação Lava Jato no STF.

Presidente da Câmara, o deputado federal Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro, foi um dos primeiros a se manifestar à reportagem da Folha: "Estou tranquilo. Vou esperar o conteúdo para analisar e depois me pronuncio".

Em nota, Cunha afirmou que só falará "depois de conhecer as razões do pedido de inquérito".

Alan Marques - 4.mar.15/Folhapress
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em sessão na qual negou CPI para investigar pesquisas eleitorais
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em sessão sobre CPI de pesquisas eleitorais

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou nota oficial em que diz que suas relações junto ao poder público nunca "ultrapassaram os limites institucionais". O peemedebista afirma ainda que nunca autorizou o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) a falar em seu nome.

Renan disse que o processo de investigação é o único "instrumento capaz de comprovar" que ele não tem envolvimento no esquema.
Roseana Sarney, ex-governadora do Maranhão pelo PMDB, disse que não poderá se manifestar porque desconhece o inquérito.

Por meio de sua assessoria, Roseana informou que ficou "completamente perplexa", sentiu-se "injustiçada" e reiterou não ter relação com Paulo Roberto Costa nem com os fatos investigados na Operação Lava Jato.

Marlene Bergamo - 09.jan.14/Folhapress
A deputada federal e ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, com o ministro da Justiça Eduardo Cardozo
A deputada federal e ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, com o ministro Eduardo Cardozo

Senador pelo PMDB de Rondônia, Valdir Raupp disse, por meio de nota, que "aguarda com serenidade a divulgação dos motivos que levaram seu nome a figurar na referida lista". Ele acrescentou ainda que "com tranquilidade e respeito às leis, acompanhará às diligências, absolutamente seguro de que, ao final, as provas conduzirão à verdade dos fatos."

Senador pelo PSDB de Minas Gerais, Antônio Anastasia disse por sua assessoria de imprensa que só vai se pronunciar após seu advogado ter acesso aos autos do inquérito no qual é citado.

Ex-governador mineiro, Anastasia é um dos dois políticos –o outro é o ex-presidente da República e senador Fernando Affonso Collor de Mello– cujos inquéritos não apenas foram aceitos, como já tiveram aprovados pedidos de diligências.

Omar Freire/Imprensa MG/Divulgação
O ex-governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, no anúncio de que deixaria o governo
O ex-governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, no anúncio de que deixaria o governo

Em nota assinada pelo presidente do partido, Rui Falcão, o PT defende o prosseguimento das investigações e assegura que, em caso de comprovação de delitos, seus filiados receberão punições previstas no estatuto do partido.

"Reafirmamos integral apoio ao prosseguimento das investigações que se realizam no âmbito da chamada operação Lava Jato, de forma completa e rigorosa, sem favorecimentos ou parcialidade, nos marcos do Estado Democrático de Direito", diz o texto.

O senador Lindbergh Farias, do PT do Rio de Janeiro, disse por sua assessoria que só se posicionaria depois de ler o despacho do ministro do STF.

Mais tarde, o senador Farias afirmou à reportagem da Folha:

"Vou começar com uma reclamação: lançar nomes dessa forma, sem que a gente possa ter acesso ao que tem contra cada um, acaba misturando num balaio só pessoas envolvidas em atos de corrupção, de propina, com doações de campanha legais. Mas estou tranquilo. Isso é o início de uma investigação, não de acusação, e tenho certeza que minha inocência será provada".

Ele também divulgou nota oficial, na qual afirma estar surpreso com sua inclusão na lista de abertura de inquéritos no Supremo Tribunal Federal sobre a Operação Lava Jato.

"A acusação contra mim é que Paulo Roberto [Costa, ex-diretor da Petrobras e delator do caso] teria pedido a [Alberto] Youssef [doleiro e também delator] para este repassar R$ 2 milhões para minha campanha. Youssef, por sua vez, afirma categoricamente que não me conhece, que nunca recebeu pedido de Paulo Roberto para fazer pagamento a mim e consequentemente nunca fez", disse Lindbergh.

"Minha indignação é colocarem todos na mesma situação. Igualaram políticos que receberam propinas, pagamentos pessoais, depósitos em conta com doações legais de campanha. É preciso separar o joio do trigo! Só recebemos doações legais", afirmou.

Sérgio Lima-20.jun.2013/Folhapress
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) durante entrevista ao programa
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) durante entrevista ao programa "Poder e Política"

Senadora pelo PT do Paraná e ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann se disse "triste e tranquila" com relação à inserção de seu nome entre os políticos investigados pelo STF.

Hoffmann afirmou ainda que não conhece e jamais manteve contato com Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef e que a investigação "é oportunidade de esclarecimento dos fatos" e "a forma de acabar com o julgamento antecipado".

Ex-líder do PT no Senado, o senador por Pernambuco Humberto Costa afirmou, em nota, que recebeu com "surpresa e indignação" a inclusão de seu nome na lista de parlamentares que serão investigados. Ele disse que até agora não tem conhecimento formal dos fatos a ele atribuídos, exceto pelas informações que foram veiculadas pela imprensa.

Costa afirmou ainda que reitera a "lisura de sua conduta" e disse que todas as doações que recebeu em campanhas eleitorais foram legais e aprovadas pela Justiça Eleitoral. O petista pediu ainda ao STF celeridade no processo, porque estará sujeito a uma "injusta exposição".

Alan Marques/Folhapress
O senador Humberto Costa (PT-PE) durante sessão do Senado Federal
O senador Humberto Costa (PT-PE) durante sessão do Senado Federal

O deputado federal do PT pelo Mato Grosso do Sul Vander Loubet, em nota, manifestou "extrema surpresa" com a citação de seu nome entre os investigados. "Esclareço que desconheço em quais circunstâncias meu nome foi envolvido na referida investigação" e que por isso não pode se pronunciar sobre as acusações.

O petista disse que sua atuação "é pautada pela honestidade, seriedade e responsabilidade" –ele está em seu quarto mandado. Loubet disse ainda ter "absoluta confiança" nas instituições e nos princípios do devido processo legal.

Também em nota, o deputado federal José Mentor (PT-SP) afirmou que recebeu "estarrecido" a notícia sobre a inclusão de seu nome na lista de investigados, já que não tem "qualquer ligação" e "repudia com veemência" qualquer tentativa de ser relacionado ao objeto das investigações da Lava Jato.

Ele ainda disse que vai "procurar, com toda a tranquilidade, conhecer o que a mim é atribuído e, posteriormente, prestarei os esclarecimentos necessários".

Partido com o maior número de congressistas envolvidos nos inquéritos no STF, com 31 no total, o PP divulgou nota oficial sobre o envolvimento na operação Lava Jato: "O Partido Progressista não compactua com atos ilícitos e confia na apuração da Justiça para que a verdade prevaleça nas investigações da operação Lava Jato".

Ex-deputado federal pelo PP da Bahia, Mário Negromonte negou envolvimento com as acusações referentes à operação Lava Jato. Em nota divulgada nesta sexta (6), o ex-ministro das Cidades disse reiterar seu posicionamento "no sentido de que tenho a mais absoluta convicção de que as investigações apenas confirmarão a completa insubsistência dos indícios supostamente relacionados a mim".

Senador pelo PP do Piauí, Ciro Nogueira também se pronunciou:

"Essa situação é surreal. Estão listados praticamente todos os deputados que receberam doação oficial do partido em 2010. Eu espero que a situação se resolva logo e continuo tranquilo. Em nenhum momento eu titubeei. Não conheço e nunca tive relação com o sr. (Alberto) Yousseff", disse, referindo-se ao doleiro preso em Curitiba e um dos principais delatores da operação Lava Jato.

Sergio Lima -12.abr.2013/Folhapress
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos citados pelo ex-diretor da Petrobras
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos citados pelo ex-diretor da Petrobras

O vice-governador da Bahia, João Felipe de Souza Leão, do PP, disse que não entendeu a razão de seu nome constar na lista.

"Estou tão surpreso quanto tantos outros, não sei porque meu nome saiu. Nem conhecia esse povo. Acredito que pode ter sido por ter recebido recursos em 2010 das empresas que estão envolvidas na operação. Mas, botar meu nome numa zorra dessas? Não entendo. O que pode ser feito é esperar ser citado e me defender. Estou cagando e andando, no bom português, na cabeça desses cornos todos. Sou um cara sério, bato no meu peito e não tenho culpa. Segunda-feira vou para Brasília saber porque estou envolvido [...] Recebi recursos da OAS [em 2010] mas quem recebeu recursos legais, na conta legal, tem culpa?".

À Folha, o deputado João Sandes Jr, do PP de Goiás, afirmou: "Nunca vi na minha vida, a não ser na televisão, o sr. Paulo Roberto [Costa, delator] e o doleiro [Alberto] Youssef. Nunca estive com eles em lugar nenhum. Fiquei estarrecido, quase caí da cadeira [quando soube]. [Do PP] foram todos, só ficou o Maluf de fora. Não tenho a menor ideia [da suspeita] porque não tive acesso ao processo. Preciso saber do que se trata para dar uma explicação mais expressiva."

O deputado federal Luiz Carlos Heinze (PP-RS) nega irregularidades e disse que recebeu dinheiro, contabilizado, da direção nacional do PP. "Vou me defender. Quem não deve não teme e estou tranquilo em relação a isso. Não conheço Paulo Roberto Costa, [Alberto] Youssef, nenhum desses aí. Vai ser esclarecido."

Heinze fez questão de afirmar que faz oposição ao PT. "Desde o tempo do mensalão, todo mundo sabe das minhas posições. Há dois grupos dentro do partido e eu sempre fiquei do outro lado [de oposição ao PT]. Estou estranhando. Sempre estou batendo em cima do PT, que é quem comanda o PP."

Presidente do PP do Rio Grande do Sul, que teve cinco deputados citados na lista, Celso Bernardi disse que "foi uma grande surpresa" a divulgação da lista e que estão todos "muito tristes e angustiados". Segundo ele, a origem do problema pode ter sido a captação de recursos que o diretório nacional fez e repassou às contas de campanha dos deputados diretamente. "E os deputados agiram de boa-fé imaginando que era captação lícita". Ele, porém, diz que o partido não dará qualquer tipo de privilégio a "quem tenha cometido desvios de conduta."

O advogado José Antônio Boschi, que defende o deputado federal José Otávio Germano (PP-RS), nega irregularidades e diz que o deputado se dispõe a abrir seus sigilos para esclarecer o caso.

Boschi afirma que a menção a tantos deputados do PP é um indicativo de alguma suspeita ligada ao fundo partidário ou recursos do partido. Também diz que os indícios levantados pelo Ministério Público Federal são até o momento frágeis –caso contrário, o procurador-geral já teria denunciado os suspeitos.

Em nota, o deputado Simão Sessim (PP-RJ) afirmou estar "surpreso com a notícia desde o primeiro momento em que ela veio a público". Ele acrescenta: "Desconheço as razões que levaram o Ministério Público a abrir a investigação. Por isso, constituirei um advogado para acompanhar o processo, com a consciência tranquila, de um homem público que ao longo dos seus mais de 40 anos de vida pública, nunca teve o seu nome envolvido com irregularidades de qualquer tipo."

Também em nota, o deputado Waldir Maranhão (PP-MA) esclarece que ainda não teve acesso ao teor do requerimento apresentado por Janot, e também desconhece os motivos que embasaram a solicitação da investigação. "No escopo da decisão do ministro-relator [Teori Zavascki] há em relação ao meu nome, por enquanto, apenas um pedido de diligências, o que não obrigatoriamente culminará em abertura de inquérito, como já acontece com outros investigados na Operação Lava-Jato".

Ele acrescenta que está com a "consciência tranquila", e manifesta "disposição imediata de colaborar com as autoridades para o avanço exitoso da investigação".

O deputado federal Lázaro Botelho (PP-TO) informou, em nota de sua assessoria, que ficou "surpreso" com a citação de seu nome na investigação.

Disse que "está absolutamente tranquilo" e buscará mais informações para se posicionar sobre o assunto. Ainda na nota, o deputado afirma que se trata de um pedido inicial de apuração e que ele "confia na Justiça", de modo que "tem a certeza de que será provado que ele não tem nenhum envolvimento" com os fatos apurados pela investigação.

Também em nota, o deputado federal Jerônimo Pizzolotto Goergen (PP-RS) disse que recebeu "com tristeza e indignação" a informação de que está sendo investigado pela Lava Jato. "Só posso rejeitar a acusação de receber 'mesadas' de Alberto Youssef. Só posso imaginar que meu nome foi utilizado de forma indevida em negociatas espúrias".

Goergen disse ainda "jamais estive na companhia e sequer conheço este sujeito", referindo-se ao doleiro, e que "jamais imaginei algum dia passar por isso". Ao fim da nota, pediu que ninguém o prejulgue e que coloca à disposição seus sigilos bancário e telefônico.

O deputado federal Afonso Hamm (PP-RS), em nota, expressou "surpresa e indignação" pelo fato de seu nome estar na lista da Procuradoria-Geral da República. "Rechaço veementemente qualquer envolvimento ou participação no processo denunciado", disse o parlamentar. Afirmou ainda, "com tranquilidade", que "não possuo relação com a corrupção da Petrobras" e que o desdobramento da investigação e o resultado dela "serão minha maior resposta".

Em sua página no Facebook, o deputado federal missionário José Olímpio (PP-SP) disse que foi "surpreendido com muita indignação" por seu nome estar no rol dos investigados na Lava Jato.

Ele disse ainda que buscará ter acesso ao teor do inquérito para provar sua inocência. "Sempre pautei minha vida pública no princípio da legalidade e transparência. Não temo a nenhuma investigação".

O deputado federal Dilceu Sperafico (PP-PR) afirmou que ficou surpreso ao ver o seu nome na lista dos políticos que serão investigados e negou qualquer relação com os citados na Operação Lava Jato. "Nunca tratei com empreiteiras e só conheço o Paulo Roberto Costa [ex-diretor de Abastecimento da Petrobras] e o Alberto Yousseff [doleiro e delator do suposto esquema de pagamento de propina] pela televisão".

Em nota, o senador Gladson Cameli (PP-AC) disse que a inclusão do seu nome na lista dos investigados pela Lava Jato causou "estranheza", uma vez que o parlamentar "não possui qualquer ligação efetiva com a Petrobras, seus diretores ou protagonistas das das investigações em curso".

"Além de justa indignação", prossegue a nota, o senador se coloca à disposição com "absoluto empenho" para que os fatos sejam esclarecidos pela investigação, de modo que sejam punidos "aqueles que forem culpados, mas também isentando aqueles que estão sendo expostos a julgamento público de modo injusto e eleitoreiro".

O senador, ainda na nota, disse que as doações recebidas em 2014 para sua campanha ao Senado "foram obtidas de maneira lícita", com declaração de contas devidamente prestada, sem ressalvas dos tribunais eleitorais.

Pelo Twitter, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) agradeceu "a todas as pessoas que acreditaram em mim diante de tantas calúnias" e disse que contesta "com veemência as acusações".

Ele afirmou que até renunciaria de seu mandato, caso fosse culpado das acusações de Alberto Youssef, "porque tratavam-se de afirmações absurdas e sem fundamento".

O senador Romero Jucá, do PMDB de Roraima, afirmou por sua assessoria que só vai se pronunciar quando tiver acesso ao conteúdo do pedido de inquérito.

O senador Benedito de Lira, do PP de Alagoas, também negou envolvimento no caso:

"Estou surpreso com o meu nome na lista. Nunca tratei de nenhum assunto com nenhum desses caras da Petrobras. Nunca tive relações com eles nem fiz qualquer gestão junto a eles nem qualquer negociação política. Agora, vão ter que me mostrar do que fui acusado porque não estou sabendo de nada".

ARQUIVADO

Ex-presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) também se manifestou por meio de nota: "Recebo com serenidade manifestação do Ministério Público Federal e do ministro Teori Zavascki ratificando uma vida pública de 44 anos honrando meu Rio Grande do Norte. Isso diz tudo."


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