Folha de S. Paulo


Governo indica que dará cargos ao PMDB para aprovar pacote fiscal

Após amargar derrotas no Legislativo nas últimas semanas, o Palácio do Planalto sinalizou nesta segunda (23) que está disposto a fazer concessões ao PMDB para aprovar no Congresso o ajuste fiscal com mudanças em leis trabalhistas e previdenciárias.

O governo indicou que pretende contemplar seu principal aliado com nomeações nos cargos de segundo escalão e conferir mais peso à sigla nas decisões do governo.

A ofensiva em busca de apoio para o pacote fiscal começou com um almoço entre o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), desafeto de Dilma.

No encontro com Cunha, segundo a Folha apurou, Mercadante perguntou sobre o segundo escalão. O presidente da Câmara disse que o vice-presidente, Michel Temer, é quem iria coordenar tratativas sobre o assunto.
A lista de desejos do PMDB e outros aliados inclui as diretorias do setor elétrico, como Eletrobras e Furnas.

Mercadante foi o primeiro emissário da presidente Dilma Rousseff a buscar uma articulação direta com Cunha, que derrotou o candidato do PT, Arlindo Chinaglia, na eleição à presidência da Casa.

A tentativa de aproximar o Planalto de Cunha ocorre após o ex-presidente Lula aconselhar Dilma a apaziguar a relação com o presidente da Câmara.

Em outro aceno ao PMDB, os ministros Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Tombini (Banco Central) passaram quase três horas tratando do pacote em jantar com peemedebistas promovido por Temer na noite desta segunda.

Pedro Ladeira/Folhapress
Ministro Aloizio Mercadante (à dir.) deixa residência do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (ao fundo)
Ministro Aloizio Mercadante (à dir.) deixa residência do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (ao fundo)

DEFESA DO AJUSTE

No encontro com o PMDB, o ministro da Fazenda saiu em defesa do ajuste alegando que a economia brasileira precisa de uma correção de rumo, especialmente para corrigir alguns pontos da política anticíclica do primeiro mandato de Dilma, que teria afetado as contas públicas e arranhado a credibilidade do país. Ele argumentou ainda que o cenário internacional mostra que países que não passaram por adequações semelhantes foram levados a crises.

A mobilização dos assessores de Dilma pelo ajuste fiscal é motivada pela resistência das centrais sindicais e dos governistas às medidas.

O Planalto quer preservar a essência do pacote que muda regras para concessão de seguro-desemprego, abono salarial, pensão por morte e seguro-defeso para pescadores artesanais. A economia será de R$ 18 bilhões neste ano.

A ministra Kátia Abreu (Agricultura) afirmou que a cúpula do PMDB se comprometeu em apoiar o ajuste. Segundo ela, o partido não discutiu os termos do apoio, mas ele será na "forma que o ajuste fiscal exige".

Segundo relatos, parte da reunião foi marcada por reclamações de peemedebistas sobre a falta de peso do partido nas decisões do governo.


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