Folha de S. Paulo


Luiz Felipe Pondé: As redes sociais são o paraíso das almas irrelevantes

Resposta à pergunta As redes sociais tornam as pessoas mais egoístas?

SIM

Somos banais. Quase sempre. O umbigo do mundo sou eu. Num mundo veloz e líquido, o narcisismo parece ser um destino.

Alguns psicólogos, oportunistas ou desesperados, começam a suspeitar que o narcisista seria uma forma de evolução condicionada pela sobrevivência na solidão.

E, na democracia, todo mundo tem opinião sobre tudo. Enquanto isso ficava contido entre as paredes de nossa solidão, não passávamos vexame. Agora tudo mudou.

O ruído das redes sociais revela nossa banalidade solitária aos quatro cantos do mundo. Perdemos a vergonha.

A democracia é tagarela. A ideia parece não ter pedigree, mas tem. Ela é de Alexis de Tocqueville, grande intelectual francês que visitou os Estados Unidos em 1831 e escreveu seu colossal "Democracia na América" a partir dessa visita.

Ilustração/Bel Falleiros

A tagarelice na democracia nasce do chamado à soberania do povo. Se votamos, achamos que por isso somos capazes de emitir opinião sobre tudo. Triste engano.

Para além da tagarelice, hoje, o sentimento de invisibilidade é avassalador. As redes sociais são o paraíso das almas irrelevantes.

Isso não quer dizer que as redes não tenham utilidade no mundo. Seu ridículo não nasce da sua inutilidade, mas sim do fetiche de achá-las um avanço para a "felicidade".

O fetiche aparece quando pessoas têm orgasmos achando que as redes tornam manifestações na Paulista e na Síria marcos do avanço democrático. Causas do Face são a marca da irrelevância do ativismo no início do século 21.

Ou quando fetichistas das redes sociais imaginam que elas preencham o vazio do mundo. De certa forma sim, quando a realidade nos é insuportável.

De qualquer modo, numa vida em que os vínculos são cada vez mais difíceis porque as pessoas são cada vez mais chatas, afogadas em seus pequenos direitos, as redes sociais podem ser a única amiga disponível no mercado dos egoístas.


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