Folha de S. Paulo


Mariliz Pereira Jorge: As redes sociais têm o poder de estreitar laços

Resposta à pergunta: As redes sociais tornam as pessoas mais egoístas?

NÃO

Apenas reproduzimos nas redes sociais o que somos na vida offline. Mas hoje convencionou-se que tudo é culpa da tecnologia. A previsão é sempre de um futuro sombrio, onde as pessoas não se relacionam, não se falam, não se encontram.

Falava-se a mesma coisa da TV. Para os pessimistas tem sempre uma praga tecnológica mais atual. Os saudosistas olham para o passado e acham que a vida era mais vida lá atrás.

Não é melhor nem pior. É apenas diferente. Só temos que nos adaptar. As redes sociais podem, sim, nos dar uma falsa impressão de convivência cumprida. Corremos o risco de viver as relações de forma superficial. Sabemos da vida alheia, rimos das mesmas piadas, mandamos coraçõezinhos, distribuímos likes. E, então, voltamos para nossa vida ocupada.

Não dou conta de responder a todos os e-mails, inbox do Facebook, mensagens de Whatsapp. Fico na intenção. Correspondência lida e esquecida no "buraco negro das mensagens não respondidas". Não é egoísmo. É falta de habilidade em ser onipresente em todas as plataformas.

Ilustração/Bel Falleiros

Nunca estivemos tão em contato mesmo à distância. As redes sociais têm o poder de estreitar laços e desvendar afinidades até com desconhecidos. O Facebook não me avisa apenas de aniversários que eu teria esquecido –e lembrar de uma data é uma demonstração e tanto de carinho, mesmo que a lembrança tenha vindo de uma cola eletrônica.

Curto as férias de um amigo, fico sabendo da promoção de outro. Sinto-me presente em festas da família, que acompanho por fotos ou pelo Skype. Falo diariamente com amigas de São Paulo. A amizade se mantém viva graças à web. Talvez por isso eu faça todo o possível para ir aos eventos do grupo.

Egoísmo pode se manifestar em qualquer situação. Um ex-colega só assistiu TV aos 14 anos, lutou contra o analfabetismo, saiu do sertão e veio ao Rio para realizar o sonho de escrever novela. Soube disso ao final de um ano de trabalho. Quis saber por que nunca tinha me contado. "Você nunca perguntou", respondeu. Esse dia, sim, me achei bastante egoísta.


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