Folha de S. Paulo


Alexandre Schwartsman: A conta chegou

Resposta à pergunta: Diante dos sinais de recessão, o BC deveria parar de subir os juros?

NÃO

Caso o BC tivesse feito seu serviço quando podia e devia, a resposta seria "sim"; como não fez, é um sonoro "não".

Desde 2009, quando a inflação atingiu 4,3%, o BC tem falhado continuamente em sua missão institucional. Nestes anos a inflação média superou 6% ao ano e, se o consenso de mercado estiver correto, chegará a mais de 7% em 2015, apesar da recessão.

No período que antecedeu a crise de 2008-2009 houve um trabalho consistente no sentido de manter a inflação na meta. Entre 2005 e 2008, por exemplo, a inflação média ficou em 4,6% ao ano, ainda que, claro, não tenha ficado neste patamar em todos os anos. Não importa: esta proximidade sugere que o Copom então calibrava a política monetária para corrigir eventuais desvios.

Mais importante que este fato, porém, era a percepção dos agentes econômicos acerca do compromisso do BC com a meta. De 2005 a meados de 2010 as expectativas para a inflação 12 meses à frente ficaram ao redor de 4,5%, revelando a crença que o Copom continuaria a determinar a taxa de juros de forma a fazer a inflação oscilar próxima àquele nível.

Contra este pano de fundo, quando a crise de 2008 jogou o país na recessão o BC pôde reduzir a taxa de juros mantendo as expectativas de inflação devidamente ancoradas. O resultado é que, mesmo sofrendo críticas, inclusive internas, o Copom entregou a inflação na meta em 2009, com o PIB retomando a trajetória de crescimento já no 2º trimestre daquele ano.

A atuação desastrosa no período mais recente teve como consequência a perda de credibilidade do BC, expressa em expectativas consistentemente superiores à meta. Neste contexto, manter (ou mesmo reduzir) a taxa de juros não há de ter os mesmos resultados obtidos em 2009. Pelo contrário, face ao enorme choque inflacionário decorrente da necessidade de corrigir os preços administrados reprimidos nos últimos a- nos, a manutenção dos juros agora perpetuaria a inflação acima de 7% e exigiria sacrifício ainda maior à frente. Postergamos demais o ajuste e a conta chegou. Melhor pagar agora antes que fique ainda mais caro.


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