Folha de S. Paulo


Senador do PT indicou diretoria internacional, diz delator

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa apontou em depoimento prestado em acordo de delação premiada que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) indicou a diretoria internacional da Petrobras. Segundo Costa, apesar de ser do PT, "ele também prestava contas ao PMDB".

O senador foi diretor de gás e energia da Petrobras entre 1999 e 2001, no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Nesse período, Nestor Cerveró foi o principal assessor de Delcídio. Paulo Roberto Costa também trabalhou na Petrobras com o atual senador: era gerente de logística.

Costa não cita nome do diretor indicado pelo senador, mas Cerveró ocupou a diretoria internacional a partir de 2003, com a chegado do presidente Lula à Presidência.

O senador ironizou a declaração de Costa: "A acusação, por si só é bizarra". Segundo ele, não faz o menor sentido um senador do PT indicar um executivo que prestará serviços ao PMDB.

Delcídio foi indicado ao cargo na petroleira pelo então senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Esse fato pode explicar por que ele servia a dois partidos ao indicar a diretoria internacional da Petrobras, segundo o depoimento de Costa.

Os depoimentos foram prestados em setembro do ano passado, mas o juiz federal Sergio Moro tornou público os relatos nesta quinta-feira (12).

Enquanto Delcídio ocupou a diretoria de gás da Petrobras, Cerveró era gerente-executivo de Energia, setor responsável pela construção de usinas termelétricas durante o apagão no governo de FHC. Essas termelétricas geraram prejuízos milionários para a Petrobras, segundo órgãos de fiscalização.

Cerveró é acusado por Costa de ser um dos mentores da compra da refinaria de Pasadena, que provocou um prejuízo de US$ 792,3 milhões. Segundo o ex-diretor da estatal, os diretores da Petrobras sabiam que a compra era um péssimo negócio para a estatal brasileiro porque a refinaria era velha e processava um tipo de petróleo, mais leve, completamente diferente do que era produzido pela Petrobras, mais pesado.

Ele conta ter ouvido de um diretor da Odebrecht, Rogério Araújo, e do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, que a duas empresas seriam contratadas pela Petrobras para reformar Pasadena para processar petróleo mais leve por um valor que ele estima entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões.

Costa relata que em sua diretoria a propina cobrada das empreiteiras era de 3%, divididos entre o PT (2%) e o PP (1%), que havia lhe indicado para o cargo. Mas, na diretoria de gás e exploração, responsável por 70% dos investimentos da Petrobras, segundo ele, os 3% ficavam integralmente com o PT, ainda de acordo com o executivo.

O percentual do suborno, ainda segundo Costa, era retirado de valores superfaturados das obras da estatal.

Costa disse que os subornos destinados ao PT eram entregues por Renato Duque, diretor de serviços indicado ao cargo pelo então ministro José Dirceu, a João Vaccari Neto, tesoureiro do partido.

O ex-diretor conta que não sabe o caminho que o dinheiro percorria até chegar ao PT, mas que "tem ciência de que eram frequentes as reuniões deste [Renato Duque] com a pessoa de João Vaccari".

Segundo ele, os diretores de abastecimento, de serviço e da área internacional "sabiam com certeza do processo de cartelização" e "participavam do processo, se beneficiando das vantagens indevidas".

Costa disse ter estranhado o fato de a ex-presidente da Petrobras ter baixado o valor de um contrato da Odebrecht de US$ 800 milhões para cerca de US$ 400 milhões porque ela "teria aprovado o contrato como diretora".

O ex-diretor negou inicialmente que suas filhas tenham retirado documentos do seu escritório no Rio enquanto a Polícia Federal fazia buscas em sua casa, em março do ano passado. Depois ele mudou o depoimento: contou que sua família tirou US$ 100 mil, R$ 10 mil e papéis que poderiam comprometê-lo e aos seus familiares. Costa disse ter entregue esses documentos à PF posteriormente.


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